14 fev, 2022 - 19:18 • Teresa Almeida
O Presidente da República evitou pronunciar-se, esta segunda-feira, sobre a presença de tropas portuguesas na Roménia, no quadro do acordo com a NATO, mas o Governo já assegurou, também, que este envio de militares portugueses para a Roménia não está relacionado com a tensão entre Rússia e a Ucrânia.
"Sobre essa matéria, não vou entrar em qualquer tipo de declaração, que não faria sentido", disse o Chefe do Estado, preferindo lembrar que "a nossa obrigação é criar as condições para que a diplomacia tenha espaço".
Iminente ou não, parece certo que deverá haver presença portuguesa: Portugal tem cerca de 1.000 militares, um navio, sete aeronaves e 160 viaturas táticas, presentes na força de ação rápida da NATO e o uso deste contingente "depende da missão que lhe venha a ser atribuída", começa por explicar à Renascença o Major General na reserva, Carlos Branco.
"Nós participamos num esforço coletivo, temos de ser solidários e participamos com as capacidades que temos. A sua utilidade vai depender dos locais onde forem empregues e das missões que lhe forem atribuídas", complementa o militar, que é, também, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI).
Caso venha a eclodir, o conflito "vai ser dramático a vários domínios", para a Europa, que, segundo este especialista, "vai ficar muito mais dependente dos Estados Unidos e a presença militar americana na Europa vai aumentar e a Europa vai ficar mais dependente dos Estados Unidos, não só do ponto de vista económico, mas, também, sob o ponto de vista securitário".
Por outro lado, o Major General Carlos Branco identifica consequências no domínio energético, caso russos e ucranianos entrem em guerra: "vai haver um aumento brutal dos preços do gás, dos produtos energéticos, a par com a perda de capacidade competitiva dos países da União Europeia".
A este fator, o investigador do IPRI acrescenta "o facto de a frota dos países que fazem parte de gás líquido é insuficiente para abastecer a Europa de uma forma prolongada".
Para Carlos Branco, "a dependência que a Europa vai ter, também, do ponto de vista energético, é um aspeto a salientar. Mas, mesmo assim, vai haver um défice de gás, porque os EUA também não têm capacidade.
À Rússia, interessa evitar a presença de militares da NATO perto das suas fronteiras; à Ucrânia interessa repor o seu território, depois da anexação da Crimeia, por parte de Moscovo.
Na perspetiva russa, "os receios são, fundamentalmente, securitários, porque não se sentem confortáveis em ter mísseis cruzeiro com armamento nuclear nas suas fronteiras", da mesma que "nem os EUA se sentirão confortáveis se a Rússia colocar mísseis com as mesmas características em Cuba, na Venezuela ou na China.
Na perspetiva de Kiev, o Major General a prioridade é "repor a integridade territorial da Ucrânia".
Esta é, no entanto, uma questão complexa, "porque, nesta altura, o aparelho militar e de segurança é dominado por forças de extrema-direita que são nacionalistas radicais que querem fazer um ajuste de contas com a população russa ucraniana".