15 fev, 2022 - 13:01 • José Pedro Frazão com redação
O ministro dos Negócios Estrangeiros diz que há sinais contraditórios na fronteira da Ucrânia. A retirada de alguns militares russos, anunciada esta terça-feira, é positiva, mas todos os cenários estão em aberto, afirma o chefe da diplomacia portuguesa, em entrevista à Renascença.
“Esse desenvolvimento é um desenvolvimento positivo. O problema é que há sinais contraditórios, portanto devemos manter-nos preparados para todos os cenários”, defende Santos Silva.
O ministro acusa, ainda, Moscovo de manter uma lógica de intimidação com base na concentração de tropas na fronteira com a Ucrânia.
“A concentração de tropas russas na fronteira com a Ucrânia e a magnitude dos exercícios conjuntos da Rússia com a Bielorrússia, muito perto da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia são sinais muito negativos. Há ali uma lógica de intimidação que é inaceitável”, diz.
Perante este quadro, o representante português, garante que a Rússia só tem duas coisas a fazer: abandonar a ameaça à Ucrânia e negociar questões de segurança com o Ocidente.
“A Rússia deve abandonar esta posição agressiva, hostil, ameaçadora face à Ucrânia e tratar connosco as questões de segurança que são legítimas”, reitera.
Já no início do mês o ministro português tinha alertado paraa implementação de pesadas sanções a Moscovo, se a tensão com Kiev se agravar para um conflito militar.
A maioria dos cerca de 240 cidadãos com nacionalidade portuguesa a viver na Ucrânia não tem intenção de abandonar o país.
A informação foi adiantada à Renascença, por Augusto Santos Silva, que acrescenta que Portugal já identificou todos estes casos e se prepara para avançar com uma nova ronda de contactos.
“Estamos a contactar, um a um, os nossos concidadãos para saber se ainda estão na Ucrânia e se precisam de apoio”, assegura o ministro.
“Ainda há pouco falei com o nosso embaixador em Kiev e as respostas maioritárias são de pessoas que querem permanecer na Ucrânia”, acrescenta.
A crescente tensão na fronteira da Ucrânia está a (...)
O chefe da diplomacia portuguesa adianta, ainda, que são quase todos luso-ucranianos e que se encontram longe da zona de maior risco, junto da fronteira com a Rússia.
“A grande maioria deles são cidadãos luso-ucranianos. Isto é, não são cidadãos portugueses que são estrangeiros na Ucrânia, são cidadãos portugueses que também são ucranianos e, portanto, estão na sua terra”, esclarece o diplomata.
“No Donetsk e Luhansk [duas cidades próximas da fronteira com a Rússia] estavam cerca de dez pessoas e provavelmente já nem essas dez lá estão”, garantiu.
A tensão entre Kiev e Moscovo aumentou desde novembro passado, depois de a Rússia ter estacionado mais de 100.000 soldados perto da fronteira ucraniana, o que fez disparar alarmes na Ucrânia e no Ocidente, que denunciou os preparativos para uma invasão daquela ex-república soviética.
O secretário-geral das Nações Unidas já tinha dito que não há outra alternativa senão uma solução diplomática, tendo-se oferecido para mediar a crise. António Guterres falou ao telefone com os ministros dos negócios estrangeiros dos dois países a quem diz ter mostrado disponibilidade para contribuir para uma solução pacífica.