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Ucrânia. “Estamos seguramente muito preocupados”, diz Josep Borrell

17 fev, 2022 - 15:07 • Lusa

O representante da UE para os Negócio Estrangeiros esteve reunido na NATO, cujo secretário-geral se junta às vozes que dizem não ver “até agora qualquer sinal de retirada” das tropas russas das zonas fronteiriças.

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O chefe da diplomacia europeia deu conta, nesta quinta-feira, de uma intensificação dos combates na região do Donbass, sudeste da Ucrânia, e de um aumento da desinformação russa, apontando que tal constitui motivo de "grande preocupação" entre os 27.

Em declarações à chegada para a cimeira UE-África, Josep Borrell, que participou de manhã numa reunião de ministros da Defesa da NATO e, ao início da tarde, num encontro informal do Conselho Europeu para analisar a crise entre Rússia e Ucrânia, insistiu que "não há provas da retirada de tropas" russas, tal como anunciado por Moscovo, e afirmou mesmo que as provas que existem vão no sentido oposto e são preocupantes.

"Tivemos notícias de retirada de algumas tropas, mas não há provas disso. Estive na reunião de ministros da Defesa da NATO e certamente ninguém tem provas desta retirada de tropas. Do que temos provas, e preocupa-nos muito, é de um aumento dos combates e bombardeamentos nalgumas partes" da região do Donbass, prosseguiu Borrell.

No Donbass, Leste ucraniano, é onde se situam as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, e onde separatistas pró-Moscovo lutam contra o exército ucraniano desde 2014, com o apoio da Rússia.

O Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança notou que visitou em janeiro "algumas partes do setor e na altura não havia qualquer atividade militar".


Desinformação russa preocupa

O chefe da diplomacia expressou também grande preocupação com o que diz ser um aumento da desinformação do lado russo, "a fim de criar uma atmosfera de alegados ataques contra o povo russo" na região, o que faz aumentar o receio de que a Rússia esteja a preparar a chamada "operação de bandeira falsa" como pretexto para uma agressão militar.

"Junte-se a isto o voto da Duma [câmara baixa do Parlamento russo] a pedir ao Presidente [russo, Vladimir] Putin que reconheça a independência destas duas repúblicas independentistas, e tudo junto aumenta as nossas inquietações. Estamos seguramente muito preocupados", reforçou.

Reiterando que a UE ainda acredita "no processo diplomático" e vai concentrar "todos os esforços na atividade diplomática", o Alto Representante adiantou que, "por outro lado", já está "preparado um pacote muito duro de sanções, sobre o qual o Conselho Europeu foi hoje informado".

"Como Alto Representante, estou pronto a apresentar esse pacote ao Conselho [Estados-membros], a quem cabe aprovar sanções. E fá-lo-ei assim que for necessário. Se houver uma agressão [russa], convocarei imediatamente um Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros, e estou certo de que, mesmo sendo necessária unanimidade, o Conselho aprová-lo-á", disse, apontando que ainda nesta quinta-feira se pôde verificar de novo a "total unidade" dos 27 Estados-membros do bloco comunitário em torno desta matéria.

Escusando-se a detalhar o teor do pacote de sanções preparado contra a Rússia em caso de agressão militar, Josep Borrell concluiu as suas declarações à imprensa 'recordando' que se segue "uma cimeira muito importante entre União Europeia e África", e "seria uma pena" que a mesma fosse relegada para segundo plano devido à crise no leste da Europa.

NATO não vê sinais de desmobilização russa

O secretário-geral da NATO disse nesta quinta-feira que, "apesar das declarações de Moscovo", a organização não viu "até agora qualquer sinal de retirada" das tropas russas das zonas fronteiriças com a Ucrânia, parecendo antes registar-se um aumento das forças.

"Não vimos até agora qualquer sinal de retirada ou de desanuviamento. Pelo contrário, a acumulação [de forças e meios militares] da Rússia parece continuar. Exortamos a Rússia a fazer o que diz, e a retirar as suas forças das fronteiras da Ucrânia", declarou Jens Stoltenberg, numa conferência de imprensa no final de uma reunião de dois dias dos ministros da Defesa da Aliança Atlântica, em Bruxelas.

Apontando que a NATO continua a monitorizar "de muito perto" a evolução dos acontecimentos no terreno, o secretário-geral da organização comentou que a retirada das forças militares russas, tal como anunciado pelo Kremlin (Presidência russa), constituiria "um primeiro passo importante no sentido de uma solução política pacífica".

Stoltenberg garantiu que "a NATO continua aberta a envolver-se com a Rússia de boa-fé" e reiterou que "os aliados estão prontos a sentar-se com a Rússia no Conselho NATO-Rússia", para "abordar uma vasta gama de questões e encontrar pontos de convergência".


Por outro lado, "a NATO e os aliados estão a ajudar a Ucrânia a aumentar a sua capacidade de se defender. A autodefesa é um direito consagrado na Carta das Nações Unidas e os aliados estão a ajudar a Ucrânia a defender esse direito”, afirmou o secretário-geral da Aliança. “Incluindo com formação e equipamento militar para as forças armadas ucranianas, perícia cibernética e de inteligência, e um apoio financeiro significativo", sublinhou.

Na reunião foi também discutida "a presença de forças russas nas regiões georgianas da Abecásia e da Ossétia do Sul", assim como o recente voto da câmara baixa do Parlamento russo (Duma) a recomendar o reconhecimento das autoproclamadas repúblicas (separatistas) populares de Donetsk e Lugansk, no Leste da Ucrânia.

"Todos concordamos que isso seria mais uma violação flagrante da integridade territorial e da soberania da Ucrânia, assim como dos Acordos de Minsk, minando os esforços para encontrar uma solução política no Formato da Normandia [que integra Rússia, Ucrânia, Alemanha e França]", advertiu Jens Stoltenberg.

Portugal esteve representado nesta reunião pelo ministro João Gomes Cravinho, que, na quarta-feira à noite, em declarações à imprensa no final do primeiro dia de trabalhos, comentou igualmente que a situação a leste "permanece extremamente perigosa", pois, apesar das palavras de Moscovo, a NATO ainda não viu "nenhuma alteração" no terreno.

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