18 fev, 2022 - 21:18 • Isabel Pacheco
Vasyl Bundzyak prefere usar o termo “guerra” para descrever o cenário que se vive no seu país em sequência da tensão com a Rússia. Um conflito, diz o padre ortodoxo ucraniano, que dura há oito anos, desde as incursões militares russas nas regiões da Ucrânia de leste em 2014.
“Esta é uma guerra, mas não é uma guerra de guerrilha, porque nestes últimos oito anos foram mortos 14 mil cidadãos ucranianos e mais de um milhão de pessoas deslocaram-se para zonas onde não há conflito”, diz Vasyl Bundzyak, que reconhece que esta é uma questão difícil de perceber para quem não vive na Ucrânia.
“Isto é muito difícil de compreender para as pessoas de fora, mas nós, ucranianos que vivemos no estrangeiro, estamos sempre preocupados com os nossos compatriotas”, confessa em declarações à Renascença.
Perante a crescente tensão entre a Kiev e Moscovo, Vasyl Bundzyak pede uma posição mais forte da União Europeia na resolução da crise.
Separatistas pró-Rússia e forças armadas da Ucrâni(...)
“O Presidente russo sempre fez manipulação das comunidades internacionais com 'fake news' para controlar a opinião pública. A Europa faz o papel diplomático para destruir estas 'fake news', mas tem de fazer mais e ter uma posição mais dura”, defende.
“A Ucrânia não quer invadir ninguém. Quer viver em paz”, remata.
Sobre o que tem falhado para assegurar a estabilidade no seu país, o emigrante ucraniano não tem dúvidas e aponta o fracasso do Memorando de Budapeste.
“Um facto importante foi quando, em dezembro de 1994, a Ucrânia, a Inglaterra, a Rússia e os EUA assinaram o memorando de Budapeste em que se comprometiam em assegurar a integridade e a independência da Ucrânia para deixar as armas nucleares”, recorda.
“Passado este tempo o memorando não funcionou, nem funciona porque a Rússia é a primeira a mostrar que o acordo não tem nenhum impacto”.
Depois deste desfecho, “os EUA e a Inglaterra têm de fazer um esforço maior para manter os direitos do povo ucraniano e para que a Rússia deixe o meu país em paz e sossego”, defende.
Nos últimos tempos, do seu país natal chegam “relatos de medo” de quem vive sob a ameaça de uma invasão russa a qualquer minuto. “Há receio. Os meus amigos têm medo que, hoje ou amanhã, aconteça alguma coisa de grande dimensão. Vive-se com medo”, conta Vasyl Bundzyak.