25 fev, 2022 - 18:52 • Beatriz Lopes , Henrique Cunha , João Malheiro , Rosário Silva
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Milhares de ucranianos, por esta altura, estão a tentar chegar à fronteira polaca, mas a demora chega a ser de oito horas para quem se desloca de carro, e mais de 20 horas para quem opta por pôr os pés ao caminho.
Esta circunstância está a deixar em suspenso a vida de muitos ucranianos, que não sabem ainda bem como poderão sair em segurança do seu próprio país.
Um desses casos é relatado, à Renascença, por um professor universitário português a lecionar na cidade polaca de Lubin, Ricardo Rato, que está a tentar ajudar uma aluna a passar a fronteira.
Mas quando estava a caminho deparou-se com um cenário difícil em que “milhares de refugiados” tentam sair com um “atraso significativo”.
“Houve um bloqueio do sistema informático na parte ucraniana e muitos homens tentaram escapar à mobilização para ir combater”, explica, Ricardo Rato.
O professor universitário dá ainda conta que há muitos familiares e amigos de ucranianos que vão chegando de vários países à espera que os entes queridos consigam chegar a território polaco.
“Muita gente estava à espera horas e horas. Havia uma fila de carros com ucranianos de vários países que se dirigiram à fronteira para aguardar”.
O português indica que, na fronteira polaca, há nove pontos de acolhimento aos refugiados que, se não tiverem ninguém que os acolha quando chegam, têm um teto e alimentação ao seu dispor.
“É dado comida, água e informação. Um dos acolhimentos é uma escola primária que foi adaptada para lidar com esta circunstância”, relata, à Renascença.
Chama-se William Lopez e é mais um português a residir na Ucrânia. No testemunho recolhido pela Renascença, faz questão de referir que não pondera, por agora, abandonar o país.
“Eu acho que não vou sair e digo-lhe porquê. A parte em que eu teria que sair já passou mais ou menos, foi no início da invasão. Agora tenho uma maior visão do que se está a passar”, diz este jovem empresário, de 32 anos.
Casado com uma ucraniana, vive há seis anos na cidade de Cerkassy, a cerca de 300 quilómetros de Kiev e a mais de 700 quilómetros da fronteira com a Polónia.
“Na minha ideia, acho que não vai chegar aqui, porque o objetivo são as cidades grandes e isso foi mostrado com essas cidades debaixo de fogo. O grande objetivo é Kiev e, se eles tomam Kiev, despojam o Governo que está lá, metem um pró-russo e acaba a guerra”, acrescenta, William Lopez, esperançado no fim do conflito.
“Acabando a guerra, eu acredito que vai acabar daqui a pouco, uma vez que os russos estão a 10 quilómetros do centro de Kiev, e daqui a algumas horas vamos ter aí a dizer que a Rússia domina a Ucrânia”, salienta.
Já quanto ao que pode vir a seguir, as certezas não são tão evidentes: “Agora o que vem a seguir é nisso que estou de olho. O que é que o Governo que vai entrar lá vai implementar?”, questiona. “Se não me afetar em termos de vida eu continuo aqui”, alude, mas sempre na expetativa que possa “acontecer um milagre e os que russos voltem para trás”.
O empresário, que tem um filho pequeno, revela que conserva o contato com a embaixada portuguesa e conta à Renascença, parte da conversa que manteve com uma funcionária da embaixada.
“Havia três pontos de encontro e ela disse que podíamos ir para lá e, de lá, para um hotel, seguindo, depois, para a fronteira com a Polónia ou para a Roménia”, começa por explicar.
Foi-lhe, então, perguntado se “queria sair ou não”, mas mesmo “que eu quisesse”, prossegue, o empresário, não dava porque as estradas principais estavam encerradas”.
William Lopez quis ainda saber quem pagava estas deslocações e estadia e a resposta que recebeu foi inconclusiva.
“A funcionária disse-me que não tinha uma resposta, pois o Governo estava ainda a trabalhar nisso. Isto fica um pouco aquém, dizem que nos ajudam a sair, mas não dão mais indicações sobre esta situação”, menciona.
Apesar desta família estar relativamente longe da região de conflito, os dias estão a ser vividos, segundo afirma, “com alguma tensão, até porque fui pai pela primeira vez e a prioridade é o nosso filho de nove meses e também a família da minha mulher”.
O sentimento mais marcante é de tristeza, pela invasão, mas também pelo receio de que possa “chegar aqui ao nosso quintal”, que é como quem diz, à cidade onde vive.
“Graças a Deus, até agora não aconteceu nada. O clima é mais de tensão e de tristeza pelo que pode acontecer nas próximas horas com a Ucrânia e com esta invasão”, conclui, o jovem William Lopez.