25 fev, 2022 - 21:31 • Susana Madureira Martins , Tomás Anjinho Chagas
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e embaixador português na NATO, António Martins da Cruz, não acredita que as sanções do ocidente sejam capazes de travar a invasão russa à Ucrânia, que começou esta quinta-feira.
“Provavelmente não é suficiente para o Sr. Putin. Tem sido Putin a marcar o ritmo. Ele é o dono do tempo. É ele que decide. Quando é que ameaça, quando é que faz discursos e quando envia as tropas. Será ele que vai decidir quando é que se pára e quando é que se senta à mesa.”, explica à Renascença.
O ex-ministro do governo de Durão Barroso afirma que é a Rússia que pauta o andamento do conflito, e que só quando o Kremlin quiser é que as negociações vão começar. Martins da Cruz acredita que a reação do mundo ocidental não terá efeitos no comportamento russo, pelo menos a curto prazo.
“A não ser as sanções lhe comecem a fazer um mal imediato”, é dificil que a Rússia pare nos próximos tempos. Mas o antigo ministro lembra que as sanções são económicas, e que por isso, a Rússia vai conseguir resistir “semanas ou meses e meses”.
António Martins da Cruz considera que quando a Rússia se voltar a sentar à mesa das negociações, a Ucrânia estará debilitada e continuará a ser Putin a “escolher o tempo”. O ex ministro dos Negócios Estrangeiros acredita que a Roménia vai passar a ser objeto de negociação entre a Europa e a Rússia.
O ex-membro do governo rejeita qualquer bluff nesta fase do conflito. “Já ultrapassámos a fase do jogo. Quando se inicia o ataque não há jogos diplomáticos”.
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António Martins da Cruz vai mais longe e projeta um futuro pessimista “a Ucrânia está entregue à sua sorte. Ninguém vai ajudar a Ucrânia a combater as forças russas”, o ex-ministro recorda que a NATO vai apenas colocar tropas nos países vizinhos à Ucrânia, e por isso, o país não terá qualquer apoio militar direto.
Já em relação à ajuda do exército norte-americano à Ucrânia, António Martins da Cruz lembra que o risco da escalada de tensão poderia levar o conflito para a utilização de arsenal nuclear.
“Ucrânia não é da NATO. Não há o automatismo da defesa. Não tem nenhum acordo com os EUA. E eles mandarem tropas para a Ucrânia e aumentar a escalada de tensão, o próximo passo é a utilização de armamento nuclear”, defende o ex-ministro.
Segundo António Martins da Cruz, que foi também embaixador de Portugal na NATO, resta esperar pelo momento em que a Rússia queira sentar-se à mesa.
“Acho que vai haver negociações em dois tempos”, prevê. Um para definir o “futuro imedato da Ucrânia”, e posteriormente, um outro momento para definir o futuro sistema de segurança da Europa, visto que a Rússia “não aceita” o sistema atual.
Apesar da provável pressão russa para mudar a configuração da defesa no plano internacional, António Martins da Cruz não prevê o fim da Aliança Atlântica: “a Europa não vai prescindir da NATO, que é o nosso guarda-chuva americano de defesa, e do qual depende a segurança e a defesa de Portugal”.
Quanto a uma possível desagregação da Ucrânia exigida por parte dos russos no momento de negociar, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros coloca o futuro nas mãos de Putin. “Não sei, depende do que disser a Rússia”.
Mas António Martins da Cruz acredita que a Rússia não vai abdicar de Donetsk, nem de Lugansk, duas regiões separatistas da zona de Donbass, que declararam independência face à Ucrânia.
“Tudo me leva a crer que é muito difícil que estes pedaços de território voltem à situação anterior”, projeta António Martins da Cruz em entrevista à Renascença.