28 fev, 2022 - 12:59 • José Pedro Frazão , Marta Grosso , Cristina Nascimento
O diretor-geral da Organização Internacional das Migrações das Nações Unidas (OIM) diz ser muito importante perceber a duração do conflito na Ucrânia, pois disso depende a quantidade de deslocados que a União Europeia terá de acolher.
“Temos vários cenários e tudo depende da dimensão da operação militar e da duração do conflito. Por isso, a questão fundamental neste momento é parar e criar condições para um cessar-fogo. As Nações Unidas têm um cenário em que uma intervenção militar desta natureza, em vários locais, pode gerar mais de cinco milhões de deslocados”.
Nesta segunda-feira, Rússia e Ucrânia reuniram-se para conversações de paz junto à fronteira com a Bielorrússia, sem que, contudo, tivessem parado os combates.
Enquanto se aguardam notícias desta reunião, uma das prioridades imediatas vai para o acolhimento dos muitos milhares de ucranianos que continuam a deixar o país e que nesta altura já são mais de 500 mil.
Com o agudizar do conflito, muitos ucranianos proc(...)
Em entrevista à Renascença, António Vitorino explica de que forma está essa ajuda a ser articulada. Na Polónia, por exemplo, o processo parece estar a correr bem. Já na Moldávia, que também tem fronteira com a Ucrânia, a capacidade de ajudar não é tão grande – a Moldávia precisa de ajuda para ajudar.
Dentro da própria Ucrânia, o diretor-geral da OIM fala em “duas situações completamente distintas: temos pessoas nas zonas mais afetadas pela operação militar, com muita dificuldade de movimentos” e “temos movimentos noutras zonas menos impactadas pelo conflito, com pessoas que aproveitam essa circunstância para poderem tentar sair da Ucrânia e ir para países limítrofes”.
“O nosso cálculo neste momento é que deve haver cerca de 200 mil pessoas internamente deslocadas”, avança António Vitorino, lembrando que “ainda existem na Ucrânia mais de dois milhões de pessoas deslocadas internamente por causa das operações militares russas na Crimeia e na zona de Luhansk e Donetsk, desde 2014”.
Na Moldávia não existem capacidades de acolhimento, pelo que já está em curso uma operação para transportar tendas, sacos-cama, cobertores...
Além disso, há indicação que muitas pessoas fugiram para a Rússia. “Temos nota de que houve um fluxo relevante, de cerca de 100 mil pessoas, que abandonaram sobretudo a região do Leste da Ucrânia e o grande Donbass em direção à Federação Russa e os relatos que nos chegam é que também aí há necessidades humanitárias”, indica.
“O setor que mais me preocupa neste momento é o hospitalar”, afirma António Vitorino. “Obviamente, num cenário de conflito que envolva vítimas civis, isso vai ser um esforço extraordinário sobre os hospitais ucranianos”, explica.
O diretor-geral a OIM dá um exemplo: “os Médicos Sem Fronteiras deixaram de operar na Ucrânia, porque consideram que não têm condições de segurança para prosseguirem com as suas operações”.
A falta de condições deixa o país mais vulnerável no cuidado a prestar à vítimas da guerra.
Os Médicos Sem Fronteiras deixaram de operar na Ucrânia, porque consideram não ter condições de segurança
A ONU mantém as suas estruturas na Ucrânia. “A decisão do secretário-geral [António Guterres] foi de que todas as agências ficavam na Ucrânia e continuavam a operar na Ucrânia”, informa.
A OIM é uma delas e até aumentou “a presença no território ucraniano, exatamente para estarmos preparados para responder às necessidades que resultam da guerra”.
“Temos cerca de 400 colaboradores na Ucrânia, que estão em vários pontos do território ucraniano, mas neste momento temos a capacidade de intervenção bastante limitada por causa do conflito militar”, lamenta.
É fundamental parar o sofrimento das pessoas
António Vitorino explica que as Nações Unidas “estão concentradas num conjunto de pontos identificados como pontos de convergência das agências, para estarmos isentos de sermos considerados alvo no conflito militar. Mantemos um relacionamento muito direto com as autoridades ucranianas, mas também se impõe que tenhamos medidas de precaução para não expor os nossos colaboradores aos riscos da guerra”.
Agora, reforça o português, o mais importante é o cessar-fogo. “É fundamental para parar o sofrimento das pessoas e para que nós possamos acudi-las como precisam”.
condições de segurança para prosseguirem com as suas operações”.
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