09 mar, 2022 - 22:16 • Lusa
O cantor e compositor Caetano Veloso liderou esta quarta-feira um protesto na frente do Congresso, em Brasília, contra a política ambiental do Governo do Presidente, Jair Bolsonaro, que mobilizou dezenas de artistas e ativistas para exigir o fim da "destruição da Amazónia e do Brasil".
Prestes a completar 80 anos, o cantor foi recebido com um grande grupo de outros artistas e ativistas pelo presidente do Senado (câmara alta do Congresso do Brasil), Rodrigo Pacheco, a quem entregou um documento em que se exige o fim da destruição dos biomas brasileiros.
Veloso falou sobre o aumento do desflorestamento na Amazónia desde que Bolsonaro assumiu o poder, o aumento da violência contra os indígenas e também as chuvas devastadoras que, nos últimos meses, causaram graves inundações em várias áreas do país.
"A população ainda está de luto pelos seus mortos", declarou, referindo-se à catástrofe causada na cidade de Petrópolis pelas chuvas torrenciais que deixaram pelo menos 232 mortos no mês passado.
"Não são cenas de um futuro distante. Isso está acontecendo agora" e "o Senado tem o poder e a responsabilidade" de impedir o avanço de projetos de lei que "comprometam ainda mais o futuro", acrescentou o cantor e compostor brasileiro.
A manifestação foi em frente ao prédio do Congresso, no coração político de Brasília, e teve como principal objeto de protesto foi criticar conjunto de leis que tramitem no legislativo com o apoio do Governo que comprometem a conservação ambiental e ate mesmo a saúde da população.
Um dos projetos citados propõe liberar a exploração de minérios na Amazónia, reduzir terras indígenas e flexibilizar a fiscalização ambiental, entre outras iniciativas polémicas que o Governo Bolsonaro defende e que os artistas e membros da oposição brasileira descreveram como um "pacote de destruição".
Além disso, um projeto já aprovado na Câmara dos Deputados (câmara baixa do Congresso) poderá aumentar o número de agrotóxicos utilizados na poderosa agricultura brasileira que coloca em causa a saúde da população já que a nova lei flexibiliza as regras de aprovação de pesticidas e acumula no Ministério da Agricultura (Mapa) as diferentes decisões que tratam da liberação desses produtos.
Ao protesto juntaram-se alguns dos nomes mais importantes da música brasileira, como Daniela Mercury, Maria Gadú e Seu Jorge, além de Emicida e Criolo, duas das vozes mais representativas do hip hop, e dezenas de personalidades da cena artística.
O ato também contou com o apoio de grupos ambientalistas, incluindo Greenpeace, movimentos indígenas, camponeses e outros grupos sociais, além de parlamentares da oposição.
Daniela Mercury alertou sobre o impacto das iniciativas do Governo nas populações vulneráveis da Amazónia e de outros biomas e garantiu que, se os políticos não fizerem, "o povo vai mudar tudo isso".
Pacheco considerou o evento "uma das mais belas manifestações da sociedade civil que este Parlamento já viu" e garantiu que os projetos em questão serão discutidos de forma democrática e equilibrada, levando em conta a opinião de todos os brasileiros.
Antes de encerrar o ato, Veloso pediu aos presentes que se juntassem a ele em coro com o refrão de uma de suas canções mais famosas: "Terra, terra. Por mais distante que seja o navegador errante, jamais te esqueceria".
Essa mesma música foi posteriormente cantada por centenas de pessoas que se aglomeraram nos portões do Congresso brasileiro e continuaram com o protesto, mas em clima de festa e gritando "Fora Bolsonaro", aludindo às eleições de outubro, para as quais é favorito o ex-presidente progressista Luiz Inácio Lula da Silva.