09 mar, 2022 - 11:52 • José Pedro Frazão
Onde está neste momento o foco da vossa situação?
Estamos muito preocupados com a situação dos deslocados internos. Neste momento estão concentrados em áreas seguras do Oeste da Ucrânia como Lviv, Ivano-Frankivsk, Uzhhorod e Chernivtsi.
O que mais nos preocupa é o facto de quanto mais tempo as pessoas estão ali , mais vulneráveis estão. Estas pessoas precisam de abrigo, de comida, de algum aquecimento para aliviar o frio. Recebo notícia de números em torno de 3, 4 ou até 4,5 milhões de deslocados.
Observamos um grande congestionamento . É difícil alugar quartos em hotéis ou arrendar em plataformas de alojamento local. A maioria das pessoas que vêm têm ligações familiares e conseguem ficar com parentes e amigos. Mas é uma situação muito congestionada.
Qual é a fração aproximada de deslocados que se tornam efetivamente refugiados?
Estamos a falar de cerca de dois milhões de pessoas a atravessar neste momento as fronteiras. São dados que devem ser atualizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) . Mas não constatamos que todos eles estejam a pedir asilo. Muitos têm ligações familiares ou não precisam de vistos.
Em termos humanitários podemos falar numa situação distinta a Leste e a Oeste ?
Em termos gerais, sim. Note que as pessoas em movimento estão num nível acrescido de vulnerabilidade por falta de abrigos e de comida. Em todos os locais as necessidades de cariz humanitário são elevadas.
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Têm recebido muitas chamadas desesperadas de ajuda?
Temos duas linhas de emergência. Uma para cidadãos de países terceiros e para pessoas que estão a procurar ajuda, onde recebemos milhares de chamadas.
Recentemente, antes da guerra, tínhamos já montado uma linha de saúde mental e assistência psicossocial para deslocados internos, onde também vamos recebendo chamadas.
Mas que tipo de ajuda estão a receber essas pessoas?
Essa é uma pergunta muito difícil, porque até obtermos os corredores humanitários que estamos a tentar obter dos dois lados para criar “janelas de silêncio”, será muito difícil fazer chegar ajuda a estas pessoas.
É terrível. Recebemos por exemplo muitas chamadas de estudantes em Sumy. Dizem que estão retidos num abrigo, sem comida nem água. E sabemos da existência de ucranianos também na mesma situação.
Os corredores são mais essenciais nalgum ponto específico da Ucrânia?
Esperamos esses corredores para sermos capazes de trazer ajuda humanitária, evacuar o local e levar ajuda às pessoas.
É algo que é negociado pelas duas partes. Nós tentamos mediar ou pelo menos sublinhar a necessidade de serem montados esses corredores. Eles dependem da realidade a cada momento, mas gostaríamos de ver implementados os corredores em Mariupol, Kharkiv e Sumy.
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Como descreveria a situação em Kiev?
É mesmo terrível e peço desculpa por estar constantemente a usar este adjetivo. Tivemos pessoas que estão em abrigos caseiros. Não vemos o nível de destruição que observamos em cidades do Leste, mas pessoas não estão em menor situação de vulnerabilidade. Em Kharkiv, a segunda cidade do país, a situação é semelhante embora o nível de destruição seja diferente face a Kiev.
Como foi a retirada de um grande contingente da ONU de Kiev?
Tudo parte da avaliação de segurança que a ONU tem. É uma abordagem faseada. Como organização humanitárias, nunca nos imaginamos a partir. Apenas nos mudámos para Lviv. Quero enfatizar que estamos aqui para ficar. Esta é uma deslocalização temporária sempre com a intenção de voltar. Temos um contingente da OIM de mais de 220 funcionários em Kiev.
Foi uma operação muito grande. Alguns funcionários em fases anteriores já haviam mudado de localização e fomos capazes de facilitar essa saída. Ainda estamos no processo de monitorar a equipa que está lá e ver a quem podemos prestar assistência para sermos capazes de mudar para Oeste.
Quando deixou Kiev?
Penso que vim na quarta-feira, mas não consigo lembrar-me da data exata. Demorámos dois dias, por causa de todas as diferentes barreiras de segurança.
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