Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

guerra na Ucrânia

Vladimir Ashurkov: "Não existe uma bala de prata para por fim à guerra"

09 mar, 2022 - 16:00 • Pedro Mesquita

Vladimir Ashurkov, diretor executivo da fundação anticorrupção fundada por Alexei Navalny, duvida de que a guerra na Ucrânia possa terminar num prazo curto de, por exemplo, algumas semanas.

A+ / A-

O ativista russo Vladimir Ashurkov, diretor executivo da fundação anticorrupção fundada por Alexei Navalny, não antevê para o curto-prazo o fim da guerra na Ucrânia.

"Não há uma bala de prata que os países ocidentais possam usar para garantir que Vladimir Putin pára", diz Ashurkov, em entrevista à Renascença, a partir de Londres.

Vladimir Ashurkov declara-se ainda convicto de que os militares russos consideram, em diversos cenários, a utilização de armas nucleares, mas o opositor do regime de Putin, muito próximo do ativista Alexei Navalny, espera que os russos nunca deem um passo desses. "Seria uma completa catástrofe humanitária", sublinha.

Sobre a concessão da cidadania portuguesa a Roman Abramovich, Vladimir Ashurkov considera que "foi um erro" e espera vê-lo "corrigido", embora aponte que compete às autoridades portuguesas tomarem a decisão.


Como classifica esta guerra imposta unilateralmente por Vladimir Putin?

Em duas palavras, esta é uma guerra que não foi provocada. Não havia razões para ela e está a causar a devastação e morte na Ucrânia. É uma guerra que conduz à destruição económica, tanto na Ucrânia como na Rússia, em resultado das sanções. É, portanto, um desastre que não era suposto acontecer e a maioria das pessoas não acreditava que pudesse acontecer.

A Ucrânia tenta defender-se como pode, mas as imagens que nos chegam remetem-nos para alguns momentos da II Guerra Mundial...

Sem dúvida que sim. Centenas de tanques a entrar naquele país e a combater numa escala que não era vista, na Europa, desde a II Guerra Mundial.

Acredita que as crescentes sanções que estão a ser impostas à Rússia poderão quebrar Vladimir Putin?

Não há uma bala de prata que os países ocidentais possam usar para garantir que Vladimir Putin pára. As sanções económicas são muito severas, a economia russa está a deteriorar-se muito depressa, mas daí a dizer que conseguem acabar com esta guerra no espaço de dias ou semanas, não sei... Temos que esperar para ver.

Não sabe, portanto, se o isolamento internacional da Rússia, juntamente com a pressão interna e dos oligarcas, deixam Vladimir Putin sem outra opção que não seja por fim a esta guerra, retirar da Ucrânia. Devemos temer o pior? Conhece Putin, devemos temer um ataque nuclear?

Bem, ninguém pensava que esta guerra fosse possível e aconteceu. Tenho a certeza de que, em diferentes cenários, é considerada pelos militares russos a utilização de armas nucleares. Espero que não se chegue a tal porque seria uma completa catástrofe humanitária.

"Portugal concedeu ao senhor Abramovich a cidadania portuguesa e acho que foi um erro. Espero que seja corrigido"

Entre as razões que Vladimir Putin apresentou para invadir a Ucrânia, deteta algum argumento válido? Por exemplo, quando diz que pretende "desnazificar a Ucrânia"?

Não, isso é ridículo. Não há qualquer base para acusar a Ucrânia de ser um influenciador do nazismo ou de ser, de alguma forma, um regime nazi.

E, na verdade, também há movimentos neonazis na Rússia... Dispõe de alguma informação sobre um eventual apoio financeiro, da parte de Vladimir Putin, do Kremlin a movimentos extremistas europeus, possivelmente também em Portugal?

Nos últimos anos, houve algumas informações de que as autoridades russas estavam a apoiar movimentos marginais ou nacionalistas. A investigação incidiu sobre o financiamento da Frente Nacional, em França, mas também a movimentos ultra-extremistas, na Alemanha. Esses financiamentos foram, obviamente, secretos e, infelizmente, não disponho de qualquer informação especifica relativamente a Portugal.

Regressando ao tema das sanções impostas à Rússia. O que deveria fazer Portugal, na sua opinião, relativamente ao português Roman Abramovich?

Aquilo que sabemos é que Roman Abramovich teve o apoio de uma particular comunidade judaica em Portugal para obter a cidadania portuguesa e que as autoridades portuguesas estão a investigar.

Pensa, portanto, que Portugal está a fazer o que deve ser feito, está a investigar...

Portugal concedeu ao senhor Abramovich a cidadania portuguesa e acho que foi um erro. Espero que seja corrigido. Percebo que há uma investigação em curso e espero que submeta esta concessão de cidadania a um suficiente escrutínio. Não penso que exista substância para lhe conceder a cidadania portuguesa e penso que é alguém que esteve envolvido em corrupção, na Rússia. Acho que estes dois factos, em conjunto, deveriam levá-lo a perder a cidadania portuguesa, mas cabe às autoridades portuguesas fazerem a investigação e tomarem a decisão.

Para concluir, Alexei Navalny tem recebido alguma informação sobre esta guerra, na Ucrânia? Ele, que está preso... Pergunto isto porque os cidadãos russos, em geral, também não parecem ter muita informação independente.

É verdade: Alexei Navalny está preso e tem um acesso limitado à informação, mas temos conseguido passar-lhe informação, com alguma regularidade, e a sua posição sobre esta guerra é muito clara. Ele considera que esta guerra é uma tragédia, uma catástrofe para a Ucrânia e para a Rússia ,e deveria, por isso, parar. E pensa também que as pessoas que começaram esta guerra e prosseguem com ela são criminosos de guerra.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+