21 mar, 2022 - 17:27 • José Pedro Frazão, com Carla Fino e redação
Veja também:
Os militares russos, como não conseguem tomar Mariupol, “estão a massacrar a população civil”. Ao 26.º dia de guerra na Ucrânia, o coronel Nuno Pereira da Silva faz, na Renascença, um ponto de situação do conflito no terreno.
“Os russos, não conseguindo penetrar, estão a massacrar a população civil [em Mariupol]. Normalmente, uma unidade de esquadrão-brigada tem entre 3 a 5 mil militares. Os ucranianos poderão ter cerca de 10 mil pessoas a defender a cidade. Normalmente, é preciso o triplo para a conquistar. Os russos tinham que apresentar na frente de Mariupol entre 30 mil a 40 mil pessoas. Os russos não têm mais de 180 mil soldados [em toda a Ucrânia] para várias situações.”
O exército russo já atacou hospitais, uma maternidade, um teatro e outros alvos civis na Ucrânia. Trata-se de uma estratégia de intimidação? O coronel Nuno Pereira da Silva recorda que, também na operação militar na Síria, Moscovo utilizou bombas de barril, cheias de pólvora e de pregos, proibidas pelas convenções internacionais, contra a população em Allepo.
“É isso que está a acontecer em Mariupol. Para fazer vergar os militares, como não conseguem, não têm problema nenhum em utilizar o sofrimento das populações civis.”
A resistência armada ucraniana está concentrada nas cidades, o que dificulta a invasão russa. Apesar da poderosa artilharia e do seu “grande poder de fogo“, Moscovo tem falta de homens para as várias frentes no terreno, na análise do militar na reserva.
“A Rússia tem um terço do seu potencial de combate só para tentar entrar em Kharkiv e em Mariupol. Estão completamente parados e a tentar fazer esse cerco. Os outros dois terços estarão na região de Kiev e nas outras cidades, todos distribuídos."
Nesta entrevista à Renascença, o coronel Nuno Pereira da Silva explica que a estratégia ucraniana de “fazer uma defesa em profundidade, utilizando as cidades”, está a conseguir travar o avanço do exército de Vladimir Putin.
“Esta estratégia em profundidade está a ter um sucesso muito grande porque, até ao momento, nenhuma cidade principal caiu nas mãos dos russos. Mariupol continua a ser defendida por três unidades de escalão-brigada.”
O coronel Nuno Pereira da Silva considera que a cidade sitiada de Mariupol é absolutamente estratégica no plano de invasão das forças armadas russas, para ligar a Crimeia às repúblicas separatistas de Donbass, no leste da Ucrânia e para cercar Kiev a partir do sul.
Já quanto a um ataque à capital da Ucrânia, o coronel Pereira da Silva diz que a Rússia poderá estar em pausa estratégica para um ataque em força a Kiev.
Exemplo disso é a grande coluna militar que estaria a poucos quilómetros da capital ucraniana, mas que até agora não fez grandes movimentações.
“A maior parte das forças que estava nessa coluna terão ido para uma zona de aquartelamento, não estão a atacar. Ou estão a ganhar balanço ou estão à espera de reforços. Sem reforços também não se ataca. Neste momento, eles têm que ter reforços que estão a vir algures da Rússia, então eles estão em pausa estratégia à espera de reforços para depois fazer o ataque a Kiev”, sublinha o especialista militar em entrevista à Renascença.