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Guerra na Ucrânia. Durão receia "processo de desglobalização" em curso

21 mar, 2022 - 19:32

Invasão da Ucrânia fortaleceu ainda a ligação da União Europeia à NATO, mas também criou condições para uma defesa e segurança no espaço europeu, sublinha o antigo primeiro-ministro.

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A guerra poderá terminar com o mundo dividido em dois, alertou esta segunda-feira Durão Barroso, num debate promovido esta tarde pela Gulbenkian, sobre a invasão à Ucrânia.

O antigo primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia alerta que devemos estar preparados para o pior. Nada voltará a ser como dantes, a Rússia esta a ficar isolada, sublinha.

“Uma Rússia cada vez mais dependente da China poderá significar um processo de desglobalização. Se as coisas continuarem neste sentido, podemos ter um mundo dividido em dois, a tal ideia do Ocidente de um lado e de um mundo sino-russo, com alguns aliados, do outro. Não é o cenário desejável, mas é um cenário bem possível e talvez não aquele que não é menos provável.”

A China está numa “posição desconfortável”, mas não vai alienar o Presidente russo, Vladimir Putin, afirma Durão Barroso. “Está numa posição que podemos chamar de neutralidade colaborante com a Rússia”, afirma.

Esta invasão fortaleceu ainda a ligação da União Europeia à NATO, mas também criou condições para uma defesa e segurança no espaço europeu, sublinha o antigo primeiro-ministro.

Dentro da União Europeia esta guerra está a quebrar tabus, desde logo na Alemanha, que abandonou o projeto do gasoduto Nord Stream 2 com a Rússia e decidiu enviar armamento para a Ucrânia, afirma Durão Barroso.

O antigo presidente da Comissão Europeia avisa ainda que Putin preparou-se para esta guerra. Moscovo acumulou reservas financeiras e acredita que os Estados Unidos estão mais fracos, ao contrário da Rússia.

“Putin acredita que depois da Síria a Rússia está mais forte e, depois do Afeganistão, o Ocidente e especialmente os Estados Unidos estão mais fracos. Desde 2014, Putin tem vindo a modernizar as suas forças armadas, tem vindo a acumular importantes reservas financeiras, nomeadamente devido ao aumento do preço das matérias-primas”, sustenta.

O Kremlin não esperava uma resposta tão forte da Europa, inédita, segundo Durão Barroso, em grande medida graças à resistência e ao trabalho do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, junto da opinião pública.

Para o antigo presidente da Comissão Europeia, Putin não quer apenas impedir a independência da Ucrânia, quer que seja vassala da Rússia e quer desenhar um novo mapa.

Durão Barroso defende que Putin nunca aceitou a independência da Ucrânia, mas as suas decisões têm de ser vistas à luz da sua personalidade, um “extremista ressabiado”.

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