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Donbass, o novo alvo estratégico de Putin na Ucrânia

11 abr, 2022 - 18:25 • Diogo Camilo

Rússia retirou tropas de Kiev e está a concentrar a ofensiva militar na região conhecida como o "coração industrial" da Ucrânia, com o objetivo de controlar o território até à Crimeia. Moscovo reclama já dominar mais de metade da região de Donetsk e 93% da região de Lugansk.

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Mais de mês e meio depois do início da invasão na Ucrânia, a Rússia deu início a uma nova fase da ofensiva militar que passa por concentrar esforços a leste, na região de Donbass, retirando as tropas em Kiev e iniciando um cerco que vai desde a região a norte da cidade de Kharkiv até à Mariupol, no sul.

A intenção do Presidente russo, Vladimir Putin, não é nova. Após ter reconhecido a independência das regiões de Donetsk e Lugansk, a 21 de fevereiro, apontou que a situação em Donbass tinha chegado a uma “fase crítica”, num discurso em que enfatizou que a Ucrânia “não é apenas um país vizinho, mas uma parte inseparável” da história da Rússia. Três dias depois anunciou a ofensiva militar que se estendeu por todo o território ucraniano.

Neste momento, Moscovo reclama já ter tomado controlo de 93% da região de Lugansk e de 54% da região de Donetsk, mas a resistência ucraniana tem dificultado o trabalho das tropas russas e estará por detrás da decisão de retirada de militares noutras zonas do país e concentrar esforços numa só região.

Qual é o interesse de Putin em Donbass?

Na sua atualização da situação no terreno desta segunda-feira, o Ministério da Defesa do Reino Unido, apontou para a continuação de ataques sobre o Donbass e regiões à volta, que incluem o norte de Kharkiv, Donetsk, Lugansk e a cidade sitiada de Mariupol.

Na passada semana, a NATO já tinha lançado o alerta de que Moscovo preparava uma ofensiva “muito concentrada”, esperando que nas próximas semanas a Rússia tente controlar a região e que tente criar uma “ponte” até à região da Crimeia, anexada em 2014.

A zona de Donbass é conhecida como o “coração” industrial da Ucrânia e, até ao ano em que começaram os conflitos entre Rússia e Ucrânia, só a cidade de Donetsk era responsável por produzir 20% dos produtos domésticos ucranianos e cerca de 25% das exportações, apesar de representar apenas 10% da população do país e 5% do seu território.

A chave para o reconhecimento da independência das regiões do Donbass por parte do Kremlin está na cultura desta região: de acordo com um censo realizado em 2021, mais de metade da população é de etnia ucraniana e cerca de 40% de etnia russa, mas o russo é a principal língua falada por cerca de 75% dos residentes de Donetsk e 69% dos residentes Luhansk.

Antes da guerra começar em fevereiro, dois terços das regiões estavam sob domínio ucraniano e a restante parte era governada por separatistas, com “executivos-fantoche” criados com o apoio da Rússia após o conflito na Crimeia, em 2014. O próximo passo da Rússia no seu plano militar passa então por anexar todo o Donbass, tal como fez há oito anos.

Qual é o próximo passo da Rússia em Donbass?

Depois de semanas em que tropas avançaram pelas fronteiras norte, sul e a este da Ucrânia, especialistas referem à BBC que a Rússia poderá ter sido demasiado otimista na sua abordagem militar e tenta agora controlar as regiões mais a sudeste do país, depois de ter falhado o cerco a Kharkiv.

“É um grande território para controlar, não devemos subestimar a complexidade de tudo isto”, afirma Tracey German, professor no King’s College, de Londres. “Se olharmos para o que está a ser feito à volta de Izyum, estão a seguir as principais autoestradas, o que faz sentido dado que a maioria do equipamento é movido através de estradas e caminhos de ferro”, acrescenta.

Na rota da auto estrada M03 que soldados russos agora seguem está a cidade de Slovyansk, com 125 mil habitantes: um alvo que em 2014 chegou a ser controlado por separatistas pró-russos antes de voltar a ser recapturado pela Ucrânia.

Para o Instituto de Estudos da Guerra (ISW) dos EUA, este poderá ser um ponto-chave da guerra, indicando que, se ucranianos resistirem à cidade que faz a ligação com Izyum, a estratégia russa nas duas regiões “muito provavelmente falhará”.

"Fale com clareza". Putin repreende chefe dos Serviços Secretos em direto na televisão
"Fale com clareza". Putin repreende chefe dos Serviços Secretos em direto na televisão

A “gaffe” do chefe de inteligência e o possível referendo em Lugansk

Putin nunca anunciou, publicamente, a intenção de anexar as regiões de Donetsk e Lugansk, como fez através de referendo com a Crimeia em 2014, mas alguns deslizes de outros intervenientes deram a entender os planos do Presidente russo para a região.

A reunião do Conselho de Segurança da Rússia, que antecedeu o reconhecimento da independência das duas regiões, ficou marcada por uma reprimenda de Vladimir Putin ao diretor dos Serviços de Inteligência Estrangeiros russos (SVR), Sergei Naryshkin, que sugeriu a anexação das zonas do Donbass por parte da Federação Russa.

Em resposta, o Presidente russo pediu que o chefe da inteligência, antigo colega de Putin no KGB, “falasse claramente”.

Já depois do início da guerra, a região separatista de Lugansk disse estar a considerar um referendo para que passasse a integrar a Rússia. Em conferência de imprensa, a 27 de março, o líder de Lugansk, Leonid Pasechnik, disse mesmo que o referendo teria lugar "num futuro próximo".

"Penso que num futuro próximo um referendo terá lugar no território para que o povo exerça o seu direito constitucional e expresse a sua opinião em juntar-se à Rússia. Por alguma razão, tenho a certeza que é exatamente isso que acontecerá", disse.

A 11 de maio de 2014, 96,2% dos habitantes de Lugansk votaram a favor da declaração de independência da região, contra apenas 3,8% que votaram para que permanecesse como independente, numa votação não reconhecida que, segundo o Ministério do Interior ucraniano, teve uma abstenção de 76%.

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