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A Renascença na Ucrânia

“É muito difícil” garantir corredores humanitários, alerta Programa Alimentar Mundial

21 abr, 2022 - 12:09 • José Pedro Frazão com redação

O coordenador de emergências do PAM é português e relatou à Renascença as dificuldades que sente no terreno. Pedro Matos admite que a missão ficará na Ucrânia durante muito tempo, porque muita população perdeu a fonte de rendimento.

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Garantir corredores humanitários para fazer chegar ajuda à população tem sido uma das maiores dificuldades na Ucrânia, afirma o coordenador de emergências do Programa Alimentar Mundial (PAM) à Renascença.

“Porque os dois lados querem coisas muito diferentes e, portanto, enquanto não houver cessar-fogo, é muito difícil conseguirmos garantir que os nossos camiões passam pelas duas frentes sem serem atingidos”, revela, admitindo que essas são. “de facto, horas muito complicadas”.

“Depois temos também todas as comunidades que estão do lado de lá, que também estão a sofrer no lado controlado pelo exército russo. É muito difícil também chegar a esse lado”, acrescenta Pedro Matos.

“E depois temos alguma dificuldade em fazer chegar às zonas ativas de batalha, mesmo que não estejam sitiadas, embora a essas zonas possamos chegar por outros caminhos. São situações sempre muito difíceis, que exigem a negociação com os dois lados – que nem sempre funcionam bem – para garantir que as nossas pessoas não são alvo de algum ataque”, explica ainda.


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"Os dois lados querem coisas muito diferentes e, portanto, enquanto não houver cessar-fogo, é muito difícil"


Ajudar milhões de pessoas a ter uma vida normal

Entrevistado pelo enviado especial da Renascença à Ucrânia, o responsável do PAM diz que “o objetivo é apoiar três milhões de pessoas até o próximo mês, maio, e seis milhões de pessoas até junho”.

Pedro Matos trabalha normalmente no Sudão, mas foi deslocado para a operação do PAM na Ucrânia. Diz que, no Sudão, conta com 1.500 funcionários para fornecer ajuda ao mesmo número de pessoas (seis milhões), mas “nunca vamos ter este número aqui na Ucrânia”.

“Portanto, precisamos de parceiros – ONG, por exemplo, ou a Cruz Vermelha Ucraniana – ou então é o próprio Governo, porque na maior parte do país o Governo ainda está a funcionar e os municípios estão a funcionar, os serviços sociais. Aí, o nosso papel é principalmente complementar o trabalho que eles fazem”.

A intenção é proporcionar às pessoas “uma vida o mais normal possível”. Para tal, a estratégia diverge: “no Oeste e no Centro [do país] damos dinheiro, fazemos transferências monetárias e as pessoas vão ao supermercado e compram aquilo que precisam. No Leste, [onde a guerra é mais intensa] temos uma mistura de dar cereais para as pessoas fazerem pão e para as pessoas cozinharem ou massa ou cereais, sal, também para cozinharem. E depois temos ou enlatados ou as porções individuais que basta juntar água para aquelas zonas que as pessoas estão nos metros ou nos ‘bunkers’ ou estão em sítios onde não podem cozinhar”.

O responsável revela ainda que, além das transferências de dinheiro, no centro e Oeste do país, e do fornecimento de bens alimentares no Leste, “onde as cidades estão sitiadas ou os mercados colapsaram porque não há maneira de o setor privado levar comida”, o Programa Alimentar Mundial tem ainda em curso uma “operação de apoio aos refugiados, que neste momento é mais ativa na Moldávia, um país pequeno e que já tem cerca de 400.000 refugiados”.


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Vamos ter muita gente sem casa e temos seis meses para recuperar bairros inteiros a tempo do inverno.


Uma missão para durar

Pedro Matos admite que a presença do PAM na Ucrânia se irá prolongar por muitos meses, porque a guerra implica a perda de colheitas e a destruição económica do país.

Há agricultores que “perderam o seu ano agrícola” e muitas pessoas sem casa”. Mesmo que os seis milhões de deslocados voltem a casa, “vão voltar a zonas que foram completamente arrasadas, pelo que estas pessoas vão precisar de algum tempo, de um ano ou dois, para reconstruir a sua vida e vão ter muita dificuldade em alimentar-se”, destaca.


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O nosso objetivo é apoiar 3 milhões de pessoas até maio e 6 milhões de pessoas até junho.


Além disso, “cerca de metade dos deslocados internos aqui no centro da Ucrânia, numa pequena estatística que fizemos, perdeu o trabalho. Estas pessoas não têm forma de se alimentar ou estão a usar as suas poupanças muito rapidamente. Nós contamos ter que estar aqui durante algum tempo até a Ucrânia poder voltar a pôr-se de pé”, admite.

Até porque “vamos ter muita gente sem casa e temos seis meses para recuperar bairros inteiros a tempo do inverno. Por isso, numa segunda fase vamos ter que contratar pessoas para estar aqui durante muitos anos”, acrescenta Pedro Matos, coordenador de emergências do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, entrevistado na Ucrânia pelo enviado especial da Renascença, José Pedro Frazão.

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