21 ago, 2020 - 17:37 • António Fernandes , correspondente em Londres
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Assim que se soube que o Reino Unido ia instituir quarentena obrigatória para quem chegasse ao país, Portugal colocou-se na linha da frente das negociações para estabelecer um corredor aéreo que evitasse a quarentena. Quando as primeiras exceções foram anunciadas, Portugal não foi incluído. Desde então, semana após semana, os portugueses que vivem no Reino Unido têm seguido as atualizações da “lista negra” do turismo como quem segue um desporto. À medida que mais países iam sendo incluídos, e outros excluídos, Portugal foi ficando de fora.
Agora, quando havia já só uma réstia de esperança, a isenção de quarentena de Portugal - ou de quem de lá chega - é uma excelente notícia para a comunidade portuguesa, desejosa de reencontrar a família.
E é também uma excelente notícia também para este correspondente, que escreve estas linhas a caminho do aeroporto, seguindo depois para Lisboa, depois de partilhar da angústia da incerteza que tantos outros sentiram.
Há uns meses, quando a Renascença falou com alguns portugueses a residir no Reino Unido, a expectativa era grande. A vontade de ir a Portugal no verão, para muitos a única vez que veem a família durante todo o ano, era grande, mas a quarentena no regresso tornava as coisas muito difíceis.
Ainda em julho, Marta Gonçalves do Couto tinha dito que, se a quarentena obrigatória continuasse em vigor, seria “impossível”, por motivos de trabalho, fazer férias em Portugal. Mas a vontade de partilhar a gravidez com a família foi mais forte. O emprego do marido aceitou a quarentena, ainda que sem vencimento, e “pelo que estamos a viver, eu estou grávida, acho que o meu marido percebeu o impacto psicológico que isso estava a ter em mim e então decidimos ir” com esperança de que algo mudasse até à data no regresso - domingo, 22 de agosto.
As férias foram sendo vividas sempre com esperança que “as coisas mudassem”. Perto da data do regresso ao Reino Unido, Marta já não acreditava que isso fosse possível e foi “completamente apanhada de surpresa” pelo anúncio de que Portugal passava agora a estar isento de quarentena.
EVOLUÇÃO DA COVID-19 EM PORTUGAL
Pedro Silva partiu de Portugal ainda em julho, consciente que teria de fazer quarentena no regresso mas, apesar disso, decidiu que depois do regresso negado na Páscoa já “era tempo de voltar”.
Para Pedro, a necessidade de “descansar e ver a família”, numa altura em que “não sabemos como serão as coisas até ao Natal”, foram fatores determinantes na decisão. Pedro vai entrar agora na última semana de férias sabendo que, afinal, já não será necessário fazer quarentena. Isso, diz, “beneficia muito, porque as crianças podem voltar à escola no início de setembro e começar as aulas ao mesmo tempo que as outras crianças” e, em termos laborais, também “não atrapalha”, porque Pedro trabalha também com creches e vai assim voltar ao trabalho mais cedo, sem qualquer prejuízo.
Marta diz estar “muito feliz” e que esta notícia, quase em cima do regresso, tem um “impacto enorme, porque não vamos sofrer financeiramente e foi muito bom porque conseguimos passar estes dias com a família”.
Marta já estava a trabalhar a partir de casa, mas o marido pode assim ir trabalhar e evitar ficar duas semanas sem receber. Por outro lado, a emigrante portuguesa defende que esta é uma decisão “justa” e que não “fazia sentido” regressar ao Reino Unido e ser “obrigada a fazer quarentena quando as coisas estão pior lá”.
Nas férias em Portugal, conta, sentiu segurança para fazer uma vida aproximada do “normal”, algo que não sentia em Inglaterra por entender que as pessoas não respeitam o “uso de máscaras, o distanciamento, etc”.
"É uma grande notícia para o Algarve, para muitos (...)
Este anúncio permite a muitos portugueses regressar ao Reino Unido sem fazer quarentena, com todos os benefícios que isso acarreta. Permite também que outros pensem agora em ir a Portugal, um regresso adiado por não terem condições para utilizar duas semanas de férias para ficar em casa ou sem receber.
Para além disso, relembra Marta, este anúncio já vem tarde para muitos. Apesar de estar satisfeita, tem “um bocadinho de pena porque conhecemos muitos portugueses que vieram uma semana e se foram embora para fazer quarentena para não perder esses dias de trabalho, para não ficarem sem receber”. Muitos outros não puderam cumprir o ritual do regresso a casa no Verão e podem ter perdido essa oportunidade.
Apesar do anúncio ter sido feito dia 20 de agosto, esta é uma medida que não teve efeito imediato e entra em vigor apenas no sábado, 22 de agosto, às 4h00 da manhã.
Maria Pinotes estava a voar para Londres quando Grant Shapps, ministro britânico dos Transportes, confirmou a isenção de Portugal. No rodopio de informações, há detalhes que escapam e, quando a Renascença perguntou como se sentia por ter de fazer quarentena - uma obrigação que aqueles que chegam a partir de sábado não têm - Maria ainda não sabia dessa distinção.
Confrontada com as más notícias, Maria diz-se preparada para a quarentena, que estava “tudo bem” e que “ia estar em casa de qualquer forma”. Uma azarada sem complicações de maior, mas outros estarão mais frustrados porque terão de fazer quarentena, potencialmente perdendo o vencimento de duas semanas porque regressaram dia 20, dois dias antes de começar a isenção.
Da mesma forma que Portugal ficou isento, relembrou Grant Shapps no Twitter, pode sempre voltar a integrar a “lista negra” e, por isso, defende que quem viaja precisa estar preparado para esse cenário, que já aconteceu a quem visitava França na semana passada ou a Croácia, ainda esta quinta-feira.
Entretanto, muitos turistas ingleses estão a preparar-se para aproveitar um inesperado final de verão em Portugal, considerado agora um destino seguro, e para muitos emigrantes portugueses será possível procurar o tempo perdido num regresso a casa que parecia impossível.
MAPA DA COVID-19