19 mai, 2022 - 21:44 • Lusa
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, acusou esta quinta-feira a Rússia de usar a fome como arma de guerra contra a Ucrânia e de pôr em perigo outros países devido ao seu bloqueio às exportações agrícolas ucranianas.
"O abastecimento de alimentos de milhões de ucranianos e de milhões de outras pessoas em todo o mundo está literalmente refém do exército russo", disse Blinken num debate aberto sobre conflitos e segurança alimentar, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, convocado pelos Estados Unidos.
Blinken acusou Moscovo de bloquear repetidamente o fornecimento de alimentos e outros bens básicos a civis presos em cidades sitiadas para "alcançar o que sua invasão não foi capaz de fazer: quebrar o espírito dos ucranianos", além de destruir armazéns de alimentos e roubar cereais e outros produtos.
Segundo o secretário de Estado, a Rússia está a violar flagrantemente a resolução do próprio Conselho de Segurança que condena esse tipo de estratégia e "é o mais recente exemplo de um Governo que usa a fome de civis para tentar avançar nos seus objetivos".
Ao mesmo tempo, Blinken lembrou que os ucranianos não são os únicos que sofrem as consequências da guerra, uma vez que o conflito está a elevar os preços dos alimentos e a agravar a crise de fome que já está a ser vivida em muitos países.
Blinken, que na quarta-feira presidiu a uma reunião ministerial sobre o assunto, exigiu mais uma vez que Moscovo pare de "bloquear os portos do Mar Negro e do Mar de Azov" para que a Ucrânia possa exportar os milhões de toneladas de cereais que tem armazenados e que são fundamentais para muitas áreas de África e do Médio Oriente.
Além disso, o secretário de Estado norte-americano acusou Moscovo de ameaçar restringir as suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes para países que criticam a sua invasão.
Nesse sentido, insistiu que as sanções impostas pelos Estados Unidos e os seus aliados à Rússia não impedem de forma alguma a venda desses produtos e disse que Washington trabalha diariamente com os seus interlocutores para deixar isso claro e para que não haja temores em continuar com essas importações.
"A decisão de transformar comida em arma é de Moscovo e só de Moscovo", enfatizou.
O embaixador da Rússia junto das Nações Unidas, Vasily Nebenzya, contestou as declarações de Bliken e afirmou que a crise alimentar começou antes da operação da Rússia na Ucrânia.
"Os diplomatas aqui presentes dão a entender que a Rússia quer matar o mundo à fome e que apenas a Ucrânia e o ocidente se preocupam com a fome no mundo. Mas é tudo falso. Vamos lembrar que a ameaça de uma crise alimentar global não surgiu este ano", disse Nebenzya.
"A possibilidade de uma fome de proporções bíblicas e uma tempestade perfeita foi anunciada em 2020 pelo diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, que está a participar nesta reunião", advogou o diplomata russo, acrescentando que já na época, cerca de 155 milhões de pessoas em 55 países estavam expostas a ameaças graves no campo da segurança alimentar.
Vasily Nebenzya expressou também suspeitas sobre a exportação de cereais ucranianos para instalações de armazenamento de países europeus.
"Temos suspeitas razoáveis de que esses cereais não estão a atender às necessidades dos países famintos, mas estão a ser bombeados para os celeiros dos países europeus. Até onde sabemos, a Ucrânia está a pagar por armas fornecidas pelo ocidente", insinuou Nebenzya.
O russo insinuou ainda que os portos ucranianos estão bloqueados pela Ucrânia, pelas minas espalhadas pelo país ao longo das margens do Mar Negro e, pela falta de vontade de Kiev em cooperar com os armadores para libertar dezenas de navios estrangeiros.
O embaixador insurgiu-se mais uma vez a imposição de sanções ocidentais contra o seu país, assegurando que as consequências agravam a insegurança alimentar.
Ainda segundo o representante permanente russo, um fator importante que influenciou a deterioração da situação alimentar no mundo foi "uma transição abrupta para a energia verde imposta a todo o mundo, em vez de uma transição energética suave e bem pensada, bem como a franca politização da cooperação energética por vários países".