23 mai, 2022 - 16:48 • José Pedro Frazão , enviado especial da Renascença à Roménia
Marius Cocut-Forminte dirige a Cáritas Bucareste, mas por estes dias o seu nome bem podia ser uma palavra-passe para a ajuda que qualquer refugiado ucraniano carece na Roménia. Ele próprio reconhece que está constantemente a resolver problemas que vão desde o fornecimento de comida ao recrutamento para empregos, passando pelos corredores da documentação de que os refugiados precisam.
“A informação espalha-se no Facebook, Telegram ou Viber de que a Cáritas dá alimentos e produtos de higiene. E aparecem cá pessoas muito diferentes. Temos médicos que vêm até nós, pessoas que trabalhavam como gestores de vendas, mas também pessoas de classe baixa. Temos também empregadas domésticas ou pessoas que fazem arranjos de roupa”, explica o homem que gere a Cáritas na capital romena.
A organização já apoiou 80 mil pessoas desde 1 de março, ao longo das vagas de migração causadas pela guerra. No total, a Roménia acolheu 1 milhão de pessoas nas suas fronteiras.
A primeira vaga foi sobretudo constituída por pessoas de Kiev e da parte ocidental da Ucrânia, alguns dos quais já voltaram para o seu país. A Cáritas ajudou sobretudo a encaminhar todos aqueles que queriam seguir para outros destinos, procurando o preenchimento correto dos formulários.
“A partir de 14 de março, começámos a receber pessoas que queriam ficar de forma mais prolongada na Roménia. Hoje, temos 78 pessoas que beneficiam de alojamento de longo prazo dos parceiros da Cáritas como mosteiros e paróquias da nossa arquidiocese”, explica Marius no seu escritório de Bucareste.
Cada refugiado neste quadro recebe ainda um cartão pré-pago semanal com 30 euros para gastar nos supermercados locais. A Cáritas dá ainda medicamentos e material escolar.
Como nem todos querem logo ficar, a organização católica abriu há dois meses um centro de apoio no centro da capital que presta aconselhamento legal, psicológico e médico. Os refugiados que estão de passagem podem ter acesso a empregos e alojamentos, cursos de língua romena, para além de dois cartões semanais com cerca de 20 euros para fazerem compras.
Mas é a comida que todos procuram no centro, admite Paula Mingheti, da Cáritas de Bucareste.
“Não pode crer no número de pessoas que aparecem agora diariamente. É impressionante. Não têm dinheiro para comprar algo para comer”, descreve esta operacional da Cáritas que arregala os olhos quando nos conta quão felizes ficam as crianças com bolachas e brinquedos.
Quem chega hoje em dia são sobretudo ucranianos do Leste, com origem em Kharkiv, Odessa e Mikolaiv. Usam a fronteira mais a sul para entrarem na Roménia.
"Estou à espera da chegada de mais ucranianos neste Verão", diz Marius, ao explicar que há agora um segundo fluxo de refugiados que junta os que evitam sair da Ucrânia pela Moldávia aos que foram para aquele país e agora querem também vir para a Roménia.
"Vem agora muito mais gente da República da Moldova, porque recomeçaram os problemas com a Transnístria. Muitos temem que a história se repita e que haja um ataque à República Moldova. Por isso preferem entrar na Roménia", diz o diretor da Cáritas de Bucareste. Quase 500 mil ucranianos fugiram para a Moldávia, constituindo uma forte pressão local.