31 mai, 2022 - 22:54 • Lusa
A Rússia disse hoje apenas Kiev e o Ocidente podem agir para permitir as exportações de cereais ucranianos e russos, bloqueados desde o início da invasão russa da Ucrânia e que aumentam o risco de uma crise alimentar global.
"Os países ocidentais, que criaram uma tonelada de problemas ao fechar os seus portos para navios russos, cortando cadeias logísticas e financeiras, precisam de pensar muito sobre o que é mais importante", realçou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, numa referência às sanções contra Moscovo.
Para o governante russo, o Ocidente pode "divulgar a questão da segurança alimentar" ou "resolver esse problema com medidas concretas".
"A bola está do lado deles", salientou Lavrov, durante uma visita ao Bahrein.
Sergei Lavrov pediu ainda à Ucrânia, que enfrenta a invasão russa há três meses, para desminar as suas águas territoriais à volta dos seus portos, para permitir que navios carregados de cereais passem pelo mar Negro.
"Se o problema da desminagem for resolvido (...), as forças navais russas garantirão a passagem desimpedida desses navios para o mar Mediterrâneo e depois para os seus destinos", assegurou Lavrov.
O conflito na Ucrânia perturbou o equilíbrio alimentar global e está a levantar temores de uma crise que afetará em particular os países mais pobres.
A Ucrânia, grande exportadora de cereais, especialmente milho e trigo, tem a sua produção bloqueada devido aos combates.
Por sua vez, a Rússia, outra potência neste setor, não pode vender a sua produção e os seus fertilizantes por causa das sanções ocidentais que afetam os setores financeiro e logístico. Os dois países produzem um terço do trigo do mundo.
A circulação marítima no mar Negro está perturbada(...)
Na segunda-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que está preparado para trabalhar com a Turquia para garantir o movimento de mercadorias no mar Negro, incluindo os cereais da Ucrânia.
Já a ONU descreveu hoje como "construtivas" as conversas mantidas na segunda-feira com o governo russo para tentar facilitar as exportações de alimentos e fertilizantes do país.
A secretária-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan, reuniu-se na segunda-feira em Moscovo com o vice-primeiro-ministro russo, Andréi Belousov, e esta terça-feira viajou a Washington para manter reuniões com autoridades norte-americanas, divulgou hoje o organismo.
"O objetivo das negociações, como dissemos, está focado em facilitar os cereais e fertilizantes russos aos mercados globais para responder à crescente insegurança alimentar", explicou o porta-voz Stéphane Dujarric.
A responsável da UNCTAD assumiu a liderança nesta matéria em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, que há semanas que tenta promover um acordo mais amplo que inclua também alimentos ucranianos, básicos para alguns dos países mais pobres no mundo, onde o problema da fome está se tornando mais complicado.
De acordo com várias estimativas, a Ucrânia tem nos seus silos cerca de 22 milhões de toneladas de cereais que não pode levar para fora do país como resultado do conflito, já que a Rússia bloqueia o mar Negro e os portos ucranianos foram minados para impedir o desembarque das forças russas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo seguiu hoje para Riade, capital da Arábia Saudita, para um encontro com o homólogo saudita, o príncipe Faisal bin Farhan, e o chefe da Organização de Cooperação Islâmica, com sede no reino, revelou a sua porta-voz, Maria Zakharova.
Lavrov deve encontrar-se com os ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) na quarta-feira.
A organização, com sede em Riade, inclui membros-chave da aliança petrolífera OPEP+, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) juntamente com a aliança que este grupo assinou em 2021 com dez produtores externos, incluindo a Rússia.
Apesar da pressão de Washington, que quer um aumento na produção de petróleo para acalmar os preços da energia, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos mostraram o seu compromisso para com a OPEP+, distanciando-se do seu parceiro tradicional, os Estados Unidos.