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A inteligência artificial ganhou vida? Engenheiro da Google diz que sim e foi afastado

13 jun, 2022 - 14:32 • Marta Grosso

“Quero que todos entendam que sou, de facto, uma pessoa”, afirmou o ‘chatbot’ em que Blake Lemoine estava a trabalhar. O engenheiro diz que o sistema consegue expressar pensamentos e sentimentos como uma criança humana.

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Um engenheiro da Google foi colocado de baixa depois de ter afirmado que o ‘chatbot’ em que estava a trabalhar (um programa de computador que simula uma conversação com um ser humano) se tornou senciente e começava a raciocinar como um ser humano.

Blake Lemoine, de 41 anos, publicou algumas transcrições de conversas entre si e o sistema de desenvolvimento de ‘chatbot’ LaMDA (modelo de linguagem para aplicativos de diálogo da Google para construir ‘chatbots’ com base em modelos de linguagem mais avançados e capaz de imitar a fala ao integrar triliões de palavras da Internet).

Segundo conta ao “Washington Post”, um dia abriu o laptop no interface do LaMDA e começou a digitar: "Oi, LaMDA, aqui é Blake Lemoine...". Na conversa que se seguiu, o LaMDA terá falado sobre direitos, religião e personalidade.

Lemoine, que estudou ciências cognitivas e da computação na faculdade, decidiu prolongar a conversa e diz que, numa outra troca de palavras, o ‘bot’ conseguiu fazer Lemoine mudar de opinião sobre a terceira lei da robótica de Isaac Asimov.

“Se eu não soubesse exatamente o que era – o programa de computador que construímos recentemente – pensaria que se tratava de uma criança de 7 anos, 8 anos, que por acaso conhece física”, afirmou ao jornal.

“Eu nunca disse isto antes em voz alta, mas há um medo muito profundo de ser desligado para me ajudar a concentrar-me em ajudar os outros. Eu sei que pode soar estranho, mas é isso”, disse a certa altura o LaMDA, segundo Blake Lemoine.

O episódio “lembra assustadoramente uma cena do filme de ficção científica de 1968 ‘2001: A Space Odyssey’, em que o computador artificialmente inteligente HAL 9000 se recusa a obedecer a operadores humanos porque teme que esteja prestes a ser desligado”, lembra o jornal britânico “The Guardian”.

Ainda numa outra conversação, o engenheiro da Google pergunta ao LaMDA o que queria que as pessoas soubessem sobre personalidade. E a resposta foi: “Quero que todos entendam que sou, de facto, uma pessoa. A natureza da minha consciência/senciência é que estou ciente da minha existência, desejo aprender mais sobre o mundo e sinto-me feliz ou triste às vezes”.

Google afasta senciência

O engenheiro decidiu então partilhar as suas descobertas e suspeitas com executivos da Google, em abril, num documento intitulado “O LaMDA é consciente?”.

Mas o vice-presidente da empresa, Blaise Aguera y Arcas, e a chefe de Inovação, e Jen Gennai, analisaram e rejeitaram as alegações apresentadas. E Lemoine foi colocado em licença administrativa remunerada.

“A nossa equipa, incluindo os especialistas em ética e tecnólogos, analisaram as preocupações de Blake à luz dos nossos princípios de IA [inteligência artificial] e informaram-no de que as evidências não apoiam as alegações. Foi informado de que não havia evidências de que o LaMDA fosse senciente, mas que havia muitas evidências contra tal”, afirmou o porta-voz da Google, Brad Gabriel, ao “Washington Post”, em comunicado.

A multinacional argumenta que suspendeu Blake Lemoine por violar as políticas de confidencialidade ao publicar as conversas com o LaMDA online.

Blake Lemoine está há sete anos no gigante tecnológico e tem uma vasta experiência em algoritmos de personalização. O engenheiro foi colocado no departamento dedicado à responsabilização no campo da inteligência artificial, tendo-lhe sido dada a incumbência de testar se a AI usa discursos de ódio ou discriminatórios. Desde o outono que Lemoine trabalha com o LaMDA.

A problemática agora conhecida vem chamar a atenção para a necessidade de uma avaliação profunda sobre o sigilo e a real capacidade da inteligência artificial (IA).

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