14 jun, 2022 - 19:27 • Fábio Monteiro
A Gaia Education, organização não-governamental (ONG) que promove projetos focados no desenvolvimento sustentável, e que tem liderança portuguesa, é uma das galardoadas com o Prémio da Paz do Luxemburgo de 2022, atribuído pela Fundação Schengen e o Fórum Mundial para a Paz.
O ativista português Pedro Pedrosa, natural de Vizela, está ligado à ONG há quatro anos e desde maio ocupa o cargo de co-CEO, em conjunto com a britânica Sally Bogale. À Renascença, diz que a distinção representa “todo o trabalho que tem sido feito ao longo dos últimos 20 anos”.
Desde 2005, a ONG escocesa com foco no campo da educação já realizou projetos em 55 países pelo mundo; dá formação, aconselhamento político e legal, e dinamiza projetos locais com foco em práticas de sustentabilidade. “A Gaia Education não é uma organização que está a trabalhar a partir do norte global e a ensinar os outros. Esse nunca foi o nosso objetivo. É trabalhar com ativistas, educadores locais, pessoas que tenham o conhecimento”, sublinha o ativista.
Como exemplo, Pedro refere um projeto implementado na Sicília, região autónoma de Itália. Aí, a ONG ajudou uma comunidade local que trabalha com migrantes – “que fugiram de guerras, situações de tortura e das alterações climáticas” – desde encontrar um espaço para abrir uma pastelaria até dar formação sobre o cultivo de ervas aromáticas e de cacau, de modo a permitir a criação de uma marca própria de chocolate.
“Eles fizeram uma marca de chocolate que acabam por vender para o mundo todo. E parte deste projeto foi não só transmitir conhecimentos de como utilizar o chocolate e as matérias primas, mas também criar uma empresa sustentável”, explica.
Segundo o ativista, a Gaia Education não é uma organização “muito focada no presente, mas na educação”. “Os métodos de ensino atuais em quase todos os países do mundo são métodos bastante rudimentares e arcaicos, quando nós sabemos que a educação é muito mais do que isso”, aponta.
A ONG atribui inspiração ao pedagogo brasileiro Paulo Freire, assim como ao pensador António Sérgio. “Em Portugal temos o exemplo do António Sérgio que desde sempre defendeu uma educação progressista que nós [nas escolas nacionais] ainda não conseguimos aplicar. Aquilo que a Gaia Education faz não está muito longe desses métodos educacionais.”
Além de dirigir a Gaia Education, Pedro Pedrosa está ligado a vários projetos de índole social em Portugal: é gestor de operações na associação Animais de Rua e membro da direção da Humans Before Borders (HuBB), organização que dá apoio a migrantes e refugiados.
A título pessoal, o ativista confessa-se orgulhoso pelo prémio. “Vejo essencialmente como um reconhecimento que o ativismo começa dentro de cada um de nós e é essa a mensagem que a Gaia Education quer passar. Nós queremos que o nosso planeta seja mais sustentável e seja um planeta onde todos possamos viver de forma equitativa e inclusiva, por isso essa mudança tem de começar em nós. É nisso que eu acredito”, afirma.
Na sexta-feira, o ativista português estará no Luxemburgo para receber o prémio em nome da Gaia Education, distinguida na categoria de Contributo Excecional para a Educação.
Nos últimos anos este prémio foi atribuído a personalidades como a primatóloga Jane Goodall, o artista mexicano Pedro Reyes, o poeta e ativista pela paz Tchich Nhat Hanh, a Rotary International Foundation, entre outros.
Ainda em maio, a Renascença entrevistou o jornalista Jake Lynch que, em 2017, ganhou o prémio da Paz do Luxemburgo, na categoria de jornalismo para a paz, a propósito da dificuldade de cobrir o conflito da Ucrânia dos dois lados.