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Lukashenko e Putin mantêm "falsa amizade", diz líder da oposição bielorrussa

17 jun, 2022 - 20:13 • Lusa

Svetlana Tikhanovskaia diz que Lukashenko tem tentado iniciar o diálogo com países europeus.

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A relação entre os Presidente da Bielorrússia e da Rússia é de "falsa amizade" e ambos se aproveitam mutuamente para extrair benefícios, disse em entrevista à Lusa a líder da oposição bielorrussa Svetlana Tikhanovskaia.

"[O Presidente da Bielorrússia Alexander Lukashenko e o Presidente da Rússia, Vladimir Putin] são duas pessoas que sempre tiveram falsas amizades, circunstanciais, sempre se aproveitaram um do outro para garantirem benefícios. E agora Lukashenko precisa de Putin como um apoio político, e Putin encara Lukashenko como um seu representante, para indicar não ser o único que está a combater na Ucrânia, mas antes através de uma coligação de países", assinalou.

"Podemos vez como se alterou a retórica de Lukashenko desde o início da guerra. No início eram declarações de bravura, dizendo que ele e Putin tomariam Kiev em três dias, e tendo a 'guerra relâmpago' falhado tenta agora alterar a sua posição, dizer que não participa nesta guerra, e pretende assumir o papel de bombeiro", prosseguiu a ativista, 39 anos, que na quinta-feira iniciou uma visita de dois dias a Lisboa a convite do ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho.

A ex-candidata às eleições presidenciais de agosto de 2020, desde então exilada na vizinha Lituânia, denota assim uma nova abordagem da diplomacia de Minsk, mas que considera infrutífera.

"[Lukashenko] joga com os países ocidentais, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros enviou cartas onde refere a necessidade de iniciar o diálogo, mas devido a estes muitos meses de guerra [na Ucrânia], conseguimos explicar aos países que o regime bielorrusso tem características criminosas e existem diversas pessoas que representam uma nova Bielorrússia democrática em diversas organizações e pretendem mudar o regime. Assim, ninguém está a contactar com o ditador", frisou.

A opositora, distinguida em 2020 com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu, e que hoje tem encontros com o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e com o presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, também denunciou um processo de "russificação" ou "sovietização" do seu país, uma ex-república soviética, destinado a impor uma uniformização cultural.

"Lukashenko é a pessoa mais pró-soviética da Bielorrússia. Durante 27 anos promoveu as escolas em língua russa. Proibiu a língua bielorrussa. Agora, ler um livro em bielorrusso pode implicar prisão", denunciou.

"Para nós, como nação, é muito importante recuperar a nossa identidade. Em própria sempre falei a língua russa, e agora tento cada vez mais falar em bielorrusso porque lembro-me quando era nova, e usávamos palavras em bielorrusso, as pessoas consideraram que era uma proveniente do campo, uma língua campesina. Mas não podemos esquecer as nossas raízes, e os jovens falam cada vez mais em bielorrusso".

E neste processo, mantém a esperança de uma mudança de mentalidades, e de regime, não deixando de fazer uma analogia com o "caso" português.

"Há muitos anos atrás, caso se perguntasse ao povo português se acreditavam que se veriam livres da ditadura, e respondessem 'sim, acreditamos', ninguém poderia responder quando, 'mais tarde ou mais cedo', mas estavam a lutar", argumentou.

"É por isso que estamos agora a lutar. A nossa tarefa é prosseguir, não desistir, contrariar a intenção do regime de que estamos exaustos, e por isso é muito importante criar diversos pontos de pressão sobre o regime e apoiar a sociedade civil".

Um combate que requer "energia", como reforçou. "Precisamos de força para prosseguir este combate. E muitos países que na história viveram em ditadura, agora compreendem-nos. Querem ajudar e têm confiança na nossa opção democrática".

No entanto, Svetlana Tikhanovskaia, uma antiga professora liceal e inglês, que se viu "forçada" a entrar na alta roda da política, também mantém alguma apreensão sobre a forma que os "países amigos" têm abordado a situação, em particular nos meses mais recentes.

"Sentimos a solidariedade nestes dois últimos anos, mas são as nossas pessoas queridas que estão a sofrer nas prisões, a serem humilhadas e torturadas. Sabemos que poderia ser feito muito mais, pode haver um desconhecimento do processo, mas saúdo cada passo efetuado por qualquer país para nos ajudar. Emissão de vistos, imposição de sanções, ajuda aos 'media'', cooperação com diversas entidades, é muito importante para nós. Cada passo é significativo", concluiu.

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