24 jun, 2022 - 08:56 • Olímpia Mairos , com Lusa
O secretário-geral das Nações Unidas diz que a ONU está a negociar há várias semanas um acordo com Moscovo, Kiev e Ancara, que permita a saída dos cereais da Ucrânia em segurança e confirma a reunião na Turquia, marcada para breve, para discutir o assunto.
Em entrevista à Agencia Lusa, António Guterres assume mesmo que esta “é, porventura, a tarefa mais importante”, em que está envolvido a curto prazo, considerando que a crise alimentar é “uma prioridade absoluta”.
Se o problema não for resolvido, o secretário-geral da ONU antecipa que no próximo ano haverá escassez de alimentos.
“Agora, a curto prazo, é preciso resolver o problema da crise alimentar e não há outra maneira de resolver esse problema a não ser mobilizando um conjunto de atores para um acordo que permita que, finalmente, os cereais ucranianos saiam dos seus silos pelo Mar Negro e que os fertilizantes russos possam ajudar a adubar as produções alimentares em todo o mundo”, reforçou.
Uma reunião quadripartida com representantes das Nações Unidas, Rússia e Ucrânia terá lugar nas “próximas semanas” na Turquia para organizar o transporte de cereais através do Mar Negro, segundo informações avançadas por Ancara.
Nesta entrevista, Guterres alertou para as consequências caso não existam adubos disponíveis no mercado.
Para o próximo ano “poderemos ter um grave problema de escassez de alimentos”, prosseguiu.
António Guterres acredita também que a Conferência dos Oceanos, que decorrerá em Lisboa entre 27 de junho e 01 de julho, coorganizada por Portugal e pelo Quénia, poderá resultar em contribuições a médio prazo para a crise alimentar que está a afetar o mundo.
A ofensiva militar da Rússia na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, perturbou o equilíbrio alimentar global e está a levantar temores de uma crise que já está a afetar, em particular, os países mais pobres.
Juntas, a Ucrânia e a Rússia produzem quase um terço do trigo e da cevada do mundo e metade do óleo de girassol, enquanto a Rússia e a sua aliada Bielorrússia são dos maiores produtores mundiais de potássio, um ingrediente-chave de fertilizantes.
Nesse sentido, a guerra levou a um aumento nos preços mundiais de cereais e óleos, cujos valores superaram os alcançados durante as Primaveras Árabes de 2011 e os “motins da fome” de 2008 em África, na Ásia e na América Latina.
A concretização de um acordo, entre a ONU, a Rússia e a Ucrânia, permitiria uma redução dos preços dos produtos e atenuaria a crise alimentar no mundo, que se tem agravado na sequência da invasão russa.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, citando fontes da Presidência turca, António Guterres e o chefe de Estado da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, são esperados nessa reunião.
Questionado diretamente pela Lusa se estará presente nesse encontro, Guterres optou por não confirmar, mas garantiu que a resolução da situação “dramática” que se vive em alguns países devido à crise alimentar é um dos grandes esforços que tem em mãos.
“A curto prazo é fundamental reduzir os preços dos alimentos que estão a criar uma situação dramática em muitos países do mundo. É fundamental e este tem sido o grande esforço que eu próprio e as Nações Unidas têm desenvolvido: trazer os produtos alimentares da Ucrânia para o mercado, trazer os produtos alimentares e os fertilizantes russos para o mercado”, afirmou o secretário-geral.
Segundo explicou Guterres, todo esse processo envolve uma negociação complexa que as Nações Unidas têm vindo a fazer com a Ucrânia, com a Turquia e com a Rússia em relação ao Mar Negro, mas também com os Estados Unidos e com a Europa, “no sentido de permitir que - uma vez que não há sanções sobre alimentos e fertilizantes, embora haja depois efeitos indiretos que complicam o comércio - se criem condições”.
“Estamos a trabalhar para isso, (...) para uma larga exportação de produtos alimentares ucranianos e russos e para que os fertilizantes russos possam inverter a atual situação de subida dos preços e, pelo contrário, criar condições para que os mercados dos produtos alimentares se estabilizem. E a questão dos adubos é essencial. Hoje temos fundamentalmente um problema de acesso. Os alimentos existem, mas não há acesso a eles”, reforçou.
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