06 jul, 2022 - 06:52 • Maria Costa Lopes
O Parlamento Europeu vota esta quarta-feira a (polémica) inclusão do gás natural e do nuclear na chamada taxonomia verde, o grupo de energias limpas.
Em declarações à Renascença, Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE), fala numa tentativa de “lavagem” de formas de energias “altamente poluentes”.
“Não se pode permitir alargar desta forma a taxonomia, porque significa não só atrasar os objetivos do combate às alterações climáticas, como fazer uma lavagem de todos os princípios e acabar por aceitar energias altamente poluentes e que temos que começar a abandonar.”
Se a proposta passar esta quarta-feira no Parlamento Europeu, a energia nuclear e o gás natural passam a integrar a lista de atividades económicas sustentáveis, e passam a ter prioridade em termos de investimento.
Só uma oposição maioritária absoluta, com pelo menos 353 eurodeputados, no plenário do Parlamento Europeu, pode chumbar a proposta da Comissão Europeia.
“Alargar esta forma a taxonomia significa não só atrasar os objetivos do combate às alterações climáticas, como fazer uma lavagem de todos os princípios e acabar por aceitar energias altamente poluentes”
Perante os objetivos de neutralidade carbónica para 2050, Marisa Matias considera que abrir novamente a porta a investimentos em energias, como a nuclear e o gás natural, é “voltar décadas atrás no caminho para a transição energética” e vê esse retrocesso como um perigo para o nosso futuro.
“Portugal tem investido muito nas energias renováveis e é preciso continuar este investimento”, refere a eurodeputada bloquista à Renascença. Porém, para isso, é preciso um apoio da União Europeia.
Desde a invasão russa à Ucrânia, a 24 de fevereiro, a União Europeia já gastou mais de 28 milhões de euros em gás natural russo, segundo dados da iniciativa “Europe Beyond Coal” (Europa Além do Carvão).
Do ponto de vista energético, esta guerra veio mostrar a urgência para a libertação da “dependência do gás natural russo”, diz Marisa Matias.
A eurodeputada do BE afirma que a aprovação da proposta da Comissão agravaria a dependência face ao fornecimento de gás russo, o que significa que “indiretamente estamos a financiar a invasão criminosa da Ucrânia”.
Marisa Matias declara ainda que a substituição do gás vindo da Rússia por um gás de outra origem “é apenas tapar o sol com a peneira” e não resolve o problema.
Apostar na energia nuclear, segundo a eurodeputada portuguesa, também não é ideal. Apesar de não ter associada a produção energética de emissões de carbono, pode levar à acumulação de “resíduos tóxicos para os quais ainda não existe tratamento”, sublinha Marisa Matias.