13 jul, 2022 - 11:33 • Redação
Especialistas em virologia de todo o mundo estão a manifestar preocupação com uma nova variante da Ómicron, a subvariante BA.2.75, que foi inicialmente detetada na Índia e que está a alastrar rapidamente noutros países, entre eles Austrália, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Canadá.
Oficialmente, as autoridades de saúde ainda não fizeram qualquer anúncio relativo à subvariante, já batizada "Centaurus", mas estão já a analisar a informação disponível para emitir novas orientações.
O Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) designou esta mutação do vírus da Covid-19 como "variante sob monitorização" a 7 de julho, o que sugere que pode ser mais transmissível ou estar associada a doença grave, indica o "Guardian".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também está a debruçar-se sobre esta nova variante, mas para já a cientista-chefe da organização, a dra. Soumya Swaminathan, diz que ainda não há amostras suficientes que permitam avaliar a severidade da estirpe.
Para além do seu aparente padrão de rápida propagação e alcance geográfico, os virologistas estão sob alerta face ao número de mutações extra que a BA.2.75 contém relativamente à BA.2, a partir da qual parece ter evoluído.
"Isto pode significar que [a Centaurus] teve a oportunidade de evoluir e ganhar vantagem sobre uma linhagem de vírus já de si bem sucedida", indica Stephen Griffin, um virologista da Universidade de Leeds.
"Não tem tanto a ver com as mutações em si, mais com o número [de mutações] e combinações", acrescenta Tom Peacock, do Imperial College de Londres, que foi o primeiro virologista a identificar a Ómicron como potencialmente preocupante em novembro de 2021.
"É difícil antecipar o efeito de tantas mutações a aparecer ao mesmo tempo – dá ao vírus uma característica de imprevisibilidade, em que a soma das partes pode ser pior do que as partes individuais."
Para Peacock, a BA.2.75 traduz aquilo que "provavelmente virá a seguir, ou seja, uma 'variante de uma variante'", neste caso da BA.5. E mesmo que não se dissemine à mesma velocidade noutros países, o seu alastramento na Índia sugere que será um problema no futuro, acrescenta o especialista.
Griffin cita outro ponto potencialmente problemático, que é a capacidade impressionante desta subvariante em tolerar alterações na sua proteína spike – a parte que usa para infetar as células e na qual a maioria das vacinas Covid se baseiam.
"Há um ano, por esta altura, muitos estavam convencidos de que a Delta representava o pináculo evolucionário do vírus, mas o surgimento da Ómicron e o grande aumento na variabilidade e evasão aos anticorpos é um sinal de que não podemos seguir um plano ao estilo da Influenza para nos mantermos a par da evolução viral."
A subvariante BA.2.75 foi detetada na Índia no início de maio e já chegou a pelo menos outros dez países.
Desde então, os casos de infeção por esta variante no Reino Unido aumentaram abruptamente e, aparentemente, de forma bem mais rápida do que as infeções pela variante BA.5, já de si extremamente transmissível e que em vários locais está a substituir a BA.2 enquanto variante predominante.
As autoridades britânicas estão, por isso, a pedir aos mais de 3 milhões de adultos que ainda não receberam qualquer dose da vacina contra a Covid que se vacinem rapidamente, enquanto analisam formas de reformular as orientações oficiais para prevenir e controlar o número de infeções por SARS-CoV-2.
Antes do surgimento da Ómicron, a infeção por uma variante de Covid-19, fosse ela Alpha, Beta ou Delta, garantia imunidade contra todas as variantes durante um período de tempo alargado. Isto também garantia proteção efetiva contra infeções sintomáticas.
Contudo, o cenário alterou-se com a emergência da subvariante BA.1 da Ómicron no final de 2021. Estudos entretanto divulgados vieram demonstrar uma redução da proteção contra distintas estirpes devido a infeção prévia por Covid, ligada a respostas menos robustas dos anticorpos presentes no organismo.
Meses depois, até infeções pelas primeiras subvariantes da Ómicron (BA.1 e BA.2) parecem nem sempre proteger-nos das suas congéneres mais recentes (BA.4 e BA.5).
Por este motivo, o Governo australiano decidiu esta semana reduzir o período oficial de reinfeção de 12 semanas para 28 dias, exigindo que todos os habitantes com sintomas passadas essas quatro semanas sejam testados.
"Face ao aumento de casos de novas variantes Covid-19 a propagar-se na comunidade, a hipótese de reinfeção é agora mais provável, razão pela qual a janela para potencial reinfeção foi reduzida das 12 semanas para quatro (28 dias), com base nas recomendações mais recentes de especialistas da Comissão de Saúde da Austrália (AHPPC)", indicaram as autoridades em comunicado.
"Isto significa que, com efeito imediato, aqueles que recuperaram de infeção por Covid-19 terão de ser testados à Covid-19 passados 28 dias caso experienciem sintomas e sigam as recomendações relevantes caso testem positivo."