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Moçambique

Voltaram os ataques em Cabo Delgado. Grupo armado decapitou duas pessoas

14 jul, 2022 - 07:37 • Olímpia Mairos com Lusa

Ataque teve lugar no distrito de Ancuabe, onde a população foi ameaçada. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados está preocupado com os mais vulneráveis entre os deslocados.

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Um grupo armado desconhecido decapitou na quarta-feira duas pessoas no distrito de Ancuabe e ameaçou a população da zona que desde junho tem sido palco de novos ataques em Cabo Delgado, Moçambique, relataram fontes locais.

As vítimas foram dois jovens que realizavam trabalhos agrícolas juntamente com uma mulher.

A sobrevivente foi coagida pelos agressores a levar as cabeças das vítimas para a aldeia (Muaja) como um aviso, descreveram as mesmas fontes da comunidade, onde se inclui um familiar de um dos homens assassinados.

O grupo que atacou os residentes estava encapuçado e ameaçou entrar na povoação de Muaja.

A situação fez com que a aldeia fosse “totalmente abandonada”, disse uma das fontes a partir de Nanhupo, localidade para onde fugiu, no distrito de Montepuez.

A população e autoridades locais suspeitam que o grupo faça parte do movimento insurgente que desde outubro de 2017 aterroriza a região.

Uma ofensiva militar com apoio de vários países africanos libertou desde há um ano as zonas em redor dos projetos de gás, no norte de Cabo Delgado, mas grupos dispersos têm atacado outros locais da província.

Desde junho, a violência tem atingido a área de Ancuabe e zonas em redor.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou na última semana para a gravidade destes novos ataques, provocando 36.000 deslocados em distritos até agora considerados seguros.

Um dos mais recentes ataques “ocorreu a 35 quilómetros de Pemba”, capital da província moçambicana, com um aeroporto que a liga ao resto do mundo, base da ajuda humanitária e um dos principais refúgios para milhares de deslocados.

“O ACNUR está especialmente preocupado com a segurança e o bem-estar dos mais vulneráveis entre os deslocados, incluindo mulheres e crianças”, sublinhou, acrescentando que os grupos armados atacaram perto de estradas “regularmente utilizadas por organizações humanitárias, incluindo o ACNUR, para missões a Ancuabe, Chiúre e Montepuez”.

Violência moveu-se para sul e provocou novas deslocações maciças

De acordo com os Médicos Sem Fronteiras (MSF), durante o mês de junho, o medo da violência seguido de ataques confirmados geraram o pânico e movimentos em larga escala de pessoas de áreas próximas da capital provincial, Pemba, que eram anteriormente consideradas relativamente estáveis, como os distritos de Ancuabe e de Chiure.

“Este é o mais vasto movimento de pessoas deslocadas ocorrido este ano. Muitas pessoas fugiram múltiplas vezes, em cada vez forçadas a deixar para trás os seus poucos pertences e meios de subsistência”, indica a organização.

As equipas da MSF estão a distribuir artigos de ajuda em diversos locais onde as pessoas se abrigaram na sequência de ataques recentes, como em Ntele, no distrito de Montepuez, localidade à qual chegaram mais de mil famílias nos finais de junho. A maioria chegou com muito poucos ou nenhuns pertences e num estado de grande stress psicológico.

Segundo os Médicos Sem Fronteiras, algumas áreas na província de Cabo Delgado acolhiam já vastos números de pessoas deslocadas e estão agora a ter de se adaptar a um novo fluxo de chegadas.

“Isto tem impacto nas comunidades locais. Na maior parte dos locais, a ajuda humanitária disponível é largamente insuficiente para as necessidades das pessoas”, alertam, destacando que “há um largo número de pessoas vulneráveis com necessidades humanitárias substanciais, incluindo de cuidados de saúde, de água e saneamento e de alimentos”.

“Em algumas das zonas de mais difícil acesso, especialmente nas partes a norte e centro da província, a assistência é muito limitada”, acrescenta a Organização Não Governamental.

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