03 ago, 2022 - 19:05 • Pedro Mesquita , José Pedro Frazão
A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, já deixou Taiwan, numa visita que durou menos de 24 horas e levou à indignação política em Pequim, que reclama o território como parte da China.
Desde então, o Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou sanções comerciais a Taiwan e exercícios militares na região, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, a dizer mesmo que “aqueles que ofendem a China devem ser punidos”.
À Renascença, o especialista em política chinesa da Universidade de Aveiro, Jorge Tavares da Silva aponta que a reação militar por parte da China já era esperada e que “acontece sempre que em Taiwan há uma orientação política ou algum acontecimento que vai contra os interesses de Pequim”, com é o caso da ascensão do Partido Democrático Progressista, com mais tendências independentistas.
Com esta visita, entende Tavares da Silva, os EUA pretendiam avisar a China de “que não pode resolver as questões na Ásia com uma solução militar”, acrescentando que “não é claro” que venha a existir um confronto ou ações militares no imediato, até pelas palavras de Joe Biden a Xi Jinping - que defendeu o princípio de “uma só China”.
O especialista considera que uma confrontação militar de Pequim com os Estados Unidos, considerados o “grande inimigo”, “não está fora de questão”, tal como uma incursão militar em Taiwan, como a que a Rússia fez na Ucrânia.
Já o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz, afirma à Renascença estar convicto de que “não passa pela cabeça” de Pequim a ideia de atacar Taiwan e crê que Xi Jinping continuará a apostar em sanções económicas.
"Posição de Portugal sobre Taiwan é muito clara" - Martins da Cruz
Para o jornalista José Alberto Lemos, a Casa Branca considerou a visita de Nancy Pelosi “imprudente”, em particular no contexto de guerra na Ucrânia e sob risco de uma aproximação política entre Pequim e Moscovo.
Isto porque, apesar da aproximação da presidente da Câmara dos Representantes, os EUA mantêm a sua posição de “reconhecer a China como um só país”, não sendo favoráveis à anexação de Taiwan por parte de Pequim.
Esta é também a posição de Portugal, assinada numa declaração conjunta em 2018, quando já era primeiro-ministro António Costa, durante uma visita de Xi Jinping a Lisboa, e que assume Taiwan como parte da posição de “uma só China”, idêntica à de Pequim.
"Casa Branca encara visita como imprudência" - José Alberto Lemos