26 ago, 2022 - 16:34 • Sandra Afonso
A Consultora Rystad Energy, citada pela BBC, revelou esta sexta-feira que a Rússia está a queimar grandes quantidades de gás, que seria, normalmente, vendido à Alemanha, mas que agora fica a acumular na central de Portovaya, localizada perto de uma estação de compressão do gasoduto Nord Stream 1, que faz a ligação ao território alemão.
Por dia, estarão a ser queimados cerca de quatro milhões de metros cúbicos de gás, avaliados em 10 milhões de dólares. Ainda segundo esta consultora independente norueguesa, esta quantidade seria suficiente para baixar os preços no mercado internacional.
Os primeiros alertas foram dados por cidadãos finlandeses, que este verão questionaram a origem de uma grande chama, persistente, junto à fronteira.
Desde junho que várias chamas estão a ser acompanhadas por analistas, que registaram um aumento significativo da temperatura junto às instalações e concluem que se deve à queima de gás natural.
Não se conhecem os motivos, mas “os volumes, emissões e localização das chamas são um sinal visível do domínio russo nos mercados de energia na Europa”, defende um porta-voz da consultora.
“A Rússia poderia fazer descer os preços da energia amanhã, se quisesse. Este é o gás que teria sido exportado via Nordstream 1 ou alternativas “, acrescenta.
Na mesma linha, Miguel Berger, embaixador da Alemanha no Reino Unido, defende que as medidas da Europa para reduzir a dependência do gás russo estão “a ter um forte impacto na economia russa”, por isso assistimos a medidas excecionais, como esta. A Rússia “não tem a quem vender o gás, então tem que o queimar “, defende.
Esta até pode ser uma medida preventiva, para evitar uma acumulação excessiva ou para não exceder a capacidade máxima de armazenamento, mas os cientistas consultados pela BBC, mostram-se preocupados com a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que está a ser libertado pela queima de gás: o equivalente a cerca de nove mil toneladas por dia.
Os especialistas temem ainda os efeitos do carbono negro, partículas produzidas durante a queima incompleta de combustível, como o gás natural.
A Rússia é um dos países que mais gás tem queimado na indústria, no que acaba por ser uma prática comum, mas aqui está em causa a quantidade envolvida.
“Nunca vi uma central queimar tanto gás. Desde junho que vimos um enorme pico e simplesmente não baixou. Tem permanecido anormalmente elevado”, diz Jessica McCarty, especialista em análise de dados de satélites.