06 set, 2022 - 22:22 • Lusa
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu esta terça-feira que Rússia e Ucrânia se comprometam em travar atividades militares perto ou a partir da central nuclear de Zaporíjia e que garantam um acordo por um perímetro desmilitarizado.
Numa reunião do Conselho de Segurança sobre a situação na central nuclear, convocada pela Rússia, Guterres declarou que o secretariado das Nações Unidas "orgulhosamente apoiou" a "missão crítica" da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) em Zaporíjia, mas frisou que continua "seriamente preocupado" com a situação dentro e ao redor daquelas instalações ucranianas, ocupadas pelas tropas russas.
"Qualquer ação que possa colocar em risco a integridade física, a segurança ou a proteção da central nuclear é inaceitável. Todos os esforços para restabelecer a central como infraestrutura puramente civil são vitais", disse Guterres.
Nesse sentido, o secretário-geral da ONU pediu um compromisso por parte das forças russas, para retirar todo o pessoal e equipamentos militares daquele perímetro, e um compromisso das forças ucranianas, de não entrar naquela área.
Guterres aproveitou para lamentar o facto de que, no mês passado, a 10.ª Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares não ter conseguido chegar a um consenso.
"O documento final procurou abordar a questão da segurança das centrais nucleares em zonas de conflito armado, inclusive na Ucrânia. Mas a Conferência não conseguiu chegar a um consenso para aproveitar a oportunidade para fortalecer o Tratado", disse o ex-primeiro-ministro português.
Horas antes da reunião do Conselho de Segurança, a AIEA divulgou o seu relatório da visita à central de Zaporíjia, no qual exigiu o estabelecimento de uma "zona de segurança" em redor daquela central nuclear ucraniana, para que se evite um acidente grave.
Perante as missões diplomáticas presentes no Conselho de Segurança, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, apresentou detalhes do relatório e afirmou que "estão a brincar com o fogo".
Detalhando sete pilares do que considera ser fundamentais para a segurança das instalações, Grossi afirmou que o primeiro - dedicado à integridade física da central - "foi comprometido e continua a ser".
"Vi isso pessoalmente e é inaceitável. Estão a brincar com o fogo e algo catastrófico pode acontecer. É por isso que pedimos a criação de uma zona de segurança na central de Zaporíjia", declarou, por videoconferência.
O segundo pilar referido por Grossi é que todos os sistemas e equipamentos da central deveriam estar totalmente funcionais e a operar normalmente.
"Mas vimos que estão a operar em circunstancias desafiadoras, com equipamento militar em várias áreas", observou.
Também o "staff" da central encontra-se a trabalhar em circunstâncias difíceis, com a AEIA a recomendar que os trabalhadores sejam ser autorizados a regressar "à sua rotina normal de responsabilidade e autoridade", incluindo a receberam suporte familiar.
O quarto pilar referido por Grossi foi a necessidade de uma fonte de energia externa: "é crucial, porque, sem isso, a central pode perder funcionalidades cruciais, incluindo o arrefecimento de reatores. Sem isso, podemos ter um acidente nuclear", alertou. .
Grossi chamou ainda a atenção para a necessidade de cadeias logísticas e de transporte ininterruptas, uma vez que está em causa a maior central nuclear da Europa, que, "neste nível industrial", requer um constante fluxo de equipamentos, mas que acabou interrompido pela guerra.
Em sexto lugar, o diplomata argentino destacou que os equipamentos de monitorização de radiação da central, fundamentais para se medir os níveis de radiação da mesma, foram afetados pelo conflito.
Por último, o diretor da AEIA alertou que, para um bom funcionamento, a central precisa de linhas de comunicação continuas e fidedignas com o regulador ucraniano e outras organizações. Contudo, "vimos repetidamente que estas linhas foram interrompidas", disse.
Rafael Grossi, que liderou a visita de inspeção, afirmou que se tratou de "uma missão histórica" e que "permitiu fazer um relatório imparcial e técnico da situação".
"As missões anteriores foram para apanhar os pedaços, mas esta missão foi para impedir que algo terrível aconteça", declarou.