28 set, 2022 - 07:16 • Sérgio Costa , enviado especial ao Brasil
São olhares ansiosos que se cruzam à porta de um centro de apoio aos desempregados. No CATE (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo) da Avenida Rio Branco, São Paulo, avolumam-se pessoas que procuram uma oportunidade de garantir um novo rumo para as suas vidas.
Uns esfregam as mãos, revelando impaciência, outros olham insistentemente para o balcão, aguardando pelo atendimento que tarda em chegar. É um cenário que se repete num país de quase 10 milhões de desempregados registados.
São cidadãos anónimos que, não raras vezes, rumam à maior cidade brasileira para obter trabalho, mas facilmente caem nas malhas do desemprego.
As filas intermináveis misturam-se num cenário de angústia onde pessoas sem abrigo se acumulam nos sujos passeios de São Paulo. Um quadro agravado com a pandemia, apontam os paulistas. Se uns pretendem construir um lugar na sociedade, outros caíram já na chamada invisibilidade social e já não imaginarão uma vida melhor.
Mesmo entre os que procuram emprego, as perspetivas não são as mais positivas, mas, a poucos dias das eleições, alguns acreditam que numa mudança em Brasília e no regresso de Lula ao poder possa estar a solução.
Palavras que contrariam, contudo, um sentimento traduzido pela estatística e pelos inquéritos de opinião. O otimismo com a economia bate recordes durante o Governo Bolsonaro. Um recente estudo da Datafolha mostra estar a aumentar a perceção de melhoria económica e de condições sociais mais favoráveis.
Três em cada 10 eleitores sustentam essa tese, o que traduz o maior grau de otimismo desde 2015. O desemprego continua a cair com uma taxa abaixo dos 10% pela primeira vez em muitos anos. Bolsonaro capitaliza estes dados em clima de campanha eleitoral, sublinhando-os como a tradução do que diz ser a atuação positiva do seu Governo. Uma mensagem intensamente difundida pelas redes sociais.
Ana Carla Abrão Costa, economista da Universidade de São Paulo e da Consultora Oliver Wyman, diz à Renascença ser "inegável uma evolução económica favorável e consequente criação de emprego", cenário para o qual "contribuiu, entre outros fatores, a política fiscal do atual governo", aponta.
Para a economista, faltará, contudo, perceber se se trata de um movimento estrutural ou apenas conjuntural. Ana Carla Abrão Costa alerta ainda para a necessidade de se avançar com algumas medidas, como baixa do preço dos combustíveis e a orçamentação do apoio família "para que o valor dos salários dos novos empregos não seja anulado pela alta de preços"
Melhoria económica no Brasil será apenas perceção ou realidade? No próximo domingo, os brasileiros poderão responder.
Há uma máquina de propaganda e desinformação na ca(...)