29 set, 2022 - 08:33 • Sérgio Costa , enviado especial ao Brasil
Palmas, gritos, bandeiras no ar, telemóveis a gravar... até mesmo lágrimas. A chegada de Jair Bolsonaro a um comício é um momento de histeria coletiva. A encenação coloca o presidente que quer ser reeleito no papel de salvador, do homem desejado. É todo um ritual que envolve homens e mulheres de todas as idades, de todas as classes sociais. São famílias inteiras, mesmo com crianças muito pequenas que querem ver o homem. O "mito" como lhe chamam e gritam em coro.
A euforia, a emoção, vive-se em Santos. No litoral paulista, onde se mostrou ao mundo o Rei Pelé, nas palavras do escritor Nelson Rodrigues, o colorido das a camisolas da seleção brasileira, e das bandeiras do país, tenta clarear um dia de chuva pesada que não afasta fervorosos apoiantes.
Nas palavras de um radiante seguidor, Bolsonaro conseguiu dar ao país "uma nova forma de fazer política", distante do modelo que "montaram o maior esquema de corrupção na América Latina", conclui.
Este é o tom do habitual e curto discurso. O momento Bolsonaro dura apenas alguns minutos, mas é tempo suficiente para Bolsonaro, na derradeira fase da campanha, capitalizar os sinais de melhoria económica, de redução do desemprego.
No entanto, é com os ataques a Lula que a temperatura verbal sobe. "Corrupto" e "ladrão" são expressões habituais que conduzem a multidão a mais uma eufórica manifestação com um slogan tantas vezes repetido: "a nossa bandeira jamais será vermelha".
Mas porquê este júbilo, porquê esta devoção? Um apoiante diz que Bolsonaro é "o salvador da pátria que defende os valores da família brasileira". Uma mulher enrolada numa enorme bandeira verde e amarela defende com grande vivacidade que o presidente "resolveu todos os problemas", sobretudo ao baixar impostos.
O tom torna-se agressivo quando confrontados com as "pesquisas" (sondagens) que colocam Lula da Silva à frente das intenções de voto com probabilidade de eleição já a 2 de outubro. "Fake news", grita uma mulher! "Mais um exemplo de corrupção" garante um jovem envergando uma t-shirt com o rosto de Bolsonaro. Outro, mais velho, sustenta que a "verdadeira pesquisa é a pesquisa do povo"!
E se Bolsonaro perder? Se há quem, cerrando os punhos, adivinhe uma "guerra civil", outros garantem que nada irá acontecer. A direita, defende um seguidor de Bolsonaro, respeita o resultado das eleições... "se não forem fraudulentos". Na memória fica contudo a certeza de mais uma apoiante: "Bolsonaro não vai perder nunca, cara"!
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