30 set, 2022 - 06:05 • Tomás Anjinho Chagas
Nem cinco minutos passaram do início do debate na TV Globo, e os dois candidatos mais bem colocados já tinham passado a moderação do tom. Na primeira intervenção, Jair Bolsonaro acusou Lula da Silva de estar de mãos dadas com os criminosos, e Lula da Silva replicou:
“Quando vier no microfone, não minta, que é feio. Um presidente da República que mente descaradamente a toda a hora. Não é possível”, disparou o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT).
Bolsonaro respondeu no mesmo tom e arrancou o direito de resposta assim: “Mentiroso, ex-presidiário, traidor da pátria”. Numa linguagem que tem sido a utilizada nas últimas semanas de campanha.
Politicamente, os argumentos repetem-se: Bolsonaro insiste nos escândalos de corrupção que envolveram Lula da Silva e considera que tem tomado conta dos interesses das classes mais baixas.
Lula puxa a fita atrás e volta a afirmar que foi ele que tirou da “miséria” milhões de brasileiros. O candidato do PT acredita que nos tempos em que foi presidente (entre 2003 e 2011) “as pessoas puderam comprar uma televisão nova (…), puderam comer picanha com churrasco, puderam viajar de avião. (…) Eu tive o prazer de governar o país e fazer a maior política de inclusão social que o Brasil já teve”, respondeu ao candidato Ciro Gomes.
Num modelo com o tempo bem contado, o debate juntou Jair Bolsonaro, Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Felipe D’Avila, Soraya Thronicke e o Padre Kelmon. Os candidatos, um a um, tinham a oportunidade de interpelar outro. Na maioria das vezes, os candidatos de esquerda atacaram Jair Bolsonaro, os de direita fizeram o mesmo com Lula da Silva.
O arranque do debate foi de tal forma aceso, que quando chegou ao palanque, Felipe D’Avila disse: “Que bom ter a oportunidade de discutir um pouco de Brasil, e menos esse bate boca que não leva a lado nenhum”.
Os candidatos de esquerda apontaram as falhas do Governo de Bolsonaro no combate à pandemia, nomeadamente no atraso na compra de vacinas. À direita, os candidatos lembraram os sucessivos processos judiciais em que Lula esteve implicado.
O Padre Kelmon (cujos vínculos à igreja têm sido questionados nos últimos dias) confrontou Lula da Silva com os escândalos de corrupção. O antigo presidente brasileiro respondeu: “O senhor está fantasiado”.
Os minutos seguintes foram marcados por acusações do Padre Kelmon sobre a forma como Lula da Silva trata a religião cristã. “O senhor diz que os padres deviam ficar lá na Igreja”, acusou.
Os dois candidatos atropelaram-se de tal forma que o moderador, William Bonner, desligou os microfones. O jornalista chegou a ameaçar suspender o debate para “um curto intervalo” para conseguir acalmar os ânimos. “Vamos respirar”, apelou.
Depois de retomada a ordem, Lula da Silva estava a intervir e foi interrompido pelo Padre Kelmon e disse: “Não dá. Ou aprende a respeitar e fecha a boca, ou não dá”, vociferou o candidato do PT.
A saúde, as vacinas contra a Covid-19, o aumento dos preços dos bens alimentares e a desflorestação foram também dossiers abertos, mas que foram constantemente interrompidos pelas acusações entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro.