01 out, 2022 - 00:32 • Lusa
O Governo vai criar um incentivo para os investigadores científicos que trabalham em Portugal poderem candidatar-se a financiamento europeu, anunciou na sexta-feira a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
O anúncio oficial só vai acontecer em novembro, mas ficou a saber-se da novidade na sexta-feira pela voz da própria ministra Elvira Fortunato, durante uma conversa sob o mote "Sou cientista e faço política" que decorreu na Noite Europeia dos Investigadores do Pavilhão do Conhecimento.
De acordo com a ministra, os projetos portugueses que se candidatem aos programas de investimento do Conselho Europeu de Investigação e passem à segunda fase das candidaturas vão receber automaticamente um apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O objetivo, explicou a ministra, é incentivar os investigadores que trabalham em Portugal a concorrerem também ao financiamento europeu e não apenas ao financiamento da FCT, ao contrário do que acontece atualmente.
"É um incentivo, porque há poucos candidatos a estes fundos", sublinhou Elvira Fortunato, reconhecendo que o financiamento europeu é significativamente superior face àquele que é feito em Portugal.
"Temos de ser mais competitivos em termos europeus e, acima de tudo, de diversificar as imensas fontes de financiamento que os cientistas têm à sua disposição", tinha já dito a ministra no início da sessão.
Elvira Fortunato era uma das quatro oradoras numa palavra que juntou cientistas que, ao mesmo tempo, faziam política. Ao seu lado, tinha a secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, o ex-ministro da Educação e atualmente deputado, Tiago Brandão Rodrigues, e o deputado socialista Alexandre Quintanilha.
Sobre a relação entre a ciência e a política, o grande tema que orientou a conversa, todos concordaram que tem de ser mais estreita e que todos têm a ganhar com essa proximidade.
"O contributo da ciência para a sociedade é inquestionável", sublinhou a ministra da Ciência, considerando que, por outro lado, os cientistas também ajudam os responsáveis políticos a tomar decisões, "ainda que por vezes impopulares, mas sempre com uma base cientifica", acrescentou, citando a pandemia da covid-19 como exemplo.
No mesmo sentido, e com outra perspetiva, Isabel Ferreira explicou como o facto de ter visto o impacto do seu trabalho enquanto investigadora na valorização do interior, sobretudo Bragança, onde trabalhava, contribui para que a decisão de passar para a política fosse um passo natural.
E, atualmente, acredita que a sua experiência científica a ajuda nas suas funções governativas, uma perspetiva partilhada por Tiago Brandão Rodrigues, que defende que os políticos podem aprender mais com os cientistas.
Por outro lado, o ex-ministro da Educação considera que "existe um fosso enorme" entre a ciência e a política, mas que é frequentemente criado pelos próprios cientistas.
"Quantas vezes os cientistas se esquecem dos políticos como público-alvo", sustentou Tiago Brandão Rodrigues que comentou também uma outra diferença que afasta as duas áreas e apontada primeiro por Alexandre Quintanilha: o tempo.
"O conhecimento leva tempo, muito tempo, e é sempre um trabalho inacabado. A política e os políticos muitas vezes não têm o luxo do tempo e muitas vezes temos de tomar decisões sem termos todo o conhecimento que gostaríamos", explicou o deputado. Sobre isso, Tiago Brandão Rodrigues alertou que atualmente essa pressão é também exercida sobre os cientistas.
O ex-ministro da Educação sublinhou também que "como sociedade, temos de aproveitar melhor o que investimos na ciência". E acrescentou: "atualmente, até investimos pouco".
A conversa com cientistas que também são políticos foi uma das dezenas de atividades que decorreram na sexta-feira no Pavilhão do Conhecimento durante a Noite Europeia dos Investigadores, numa edição dedicada a conhecer melhor fora do laboratório quem faz ciência.
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MYCA // RBF.
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