04 out, 2022 - 15:48 • Lusa
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que perto de um milhão de pessoas tenham fugido às incursões armadas de rebeldes no norte de Moçambique nos últimos cinco anos.
"Esta semana marca cinco anos desde que a violência extrema eclodiu na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, forçando quase 1 milhão de pessoas a fugir durante esse período", indica uma nota do ACNUR emitida esta terça-feira.
Segundo a organização, apesar dos esforços para devolver a segurança, agora com apoio internacional, o conflito não terminou e milhares de famílias continuam a ser obrigadas a abandonar as suas zonas de origem.
"O ACNUR pede o fim da violência e a comunidade internacional para fornecer apoio sustentável para reduzir o sofrimento da população deslocada e das comunidades nos locais de acolhimento no norte de Moçambique", acrescenta a organização, que alerta para o impacto "devastador" da violência entre as populações afetadas.
"As pessoas testemunharam seus familiares sendo mortos, decapitados e estuprados, e suas casas e outras infraestruturas queimadas. Homens e meninos também foram inscritos à força em grupos armados. Os meios de subsistência foram perdidos e a educação estagnou, enquanto o acesso a necessidades como alimentação e saúde foi dificultado", indica o ACNUR.
Segundo a organização, a situação humanitária na província continua a deteriorar-se, com um aumento em 20% do número de deslocados, passando para 946.508 no primeiro semestre deste ano, numa altura em que ataques rebeldes começam a ser registados em aldeias e comunidade do extremo norte de Nampula, província vizinha de Cabo Delgado.
"O conflito já se espalhou para a província vizinha de Nampula, que testemunhou quatro ataques de grupos armados em setembro, afetando pelo menos 47.000 pessoas", acrescenta-se no documento.
Embora descreva a situação de segurança como "volátil", a organização nota que várias famílias deslocadas começam a regressar às suas zonas de origem em resultado das operações das forças governamentais em áreas consideradas agora seguras.
"Apesar do deslocamento contínuo em Cabo Delgado, algumas pessoas voltaram para suas casas em áreas que consideram seguras [...] O ACNUR está preocupado com os riscos que as pessoas enfrentam caso continuem a retornar às suas áreas de origem antes que as condições se estabilizem", acrescenta a organização.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por uma violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de violência a sul da região e na vizinha província de Nampula.
Há quase um milhão de deslocados internos devido ao conflito, de acordo com o ACNUR, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.