14 out, 2022 - 15:04 • Marta Pedreira Mixão e António Fernandes, correspondente em Londres
A primeira-ministra britânica, Liz Truss, invocou esta sexta-feira à tarde o "interesse nacional" e a necessidade de estabilidade económica no Reino Unido como argumentos para demitir o seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, que será agora substituído pelo ex-ministro da Saúde, Jeremy Hunt.
Em conferência de imprensa, e questionada sobre a razão pela qual acredita que deve permanecer como primeira-ministra, Truss defendeu que o "país precisa de estabilidade" e disse estar "absolutamente determinada" a cumprir o que prometeu quando foi eleita pelo Partido Conservador.
Também declarou como sua prioridade proporcionar a estabilidade económica de que o país necessita, pelo que teve de "agir no interesse nacional", argumentou.
“A minha prioridade é garantir a estabilidade económica que o nosso país necessita. Foi por isso que tive de tomar as decisões difíceis que tomei hoje”, explicou.
Truss lamentou "perder" Kwasi Kwarteng como ministro e descreveu-o como um "grande amigo" que "partilha a visão de colocar o país no caminho do crescimento".
Depois da demissão do ministro das Finanças, a primeira-ministra referiu que tem sido "ambiciosa" e que a sua convicção estava enraizada nas suas experiências, justificando que sabe o que é "crescer num lugar que não sente os benefícios do crescimento".
"Vi o que isso significava e não estou preparada para aceitar isso para o nosso país. Quero um país onde as pessoas possam arranjar bons empregos, no qual novos negócios possam estabelecer-se e as famílias possam ter uma vida ainda melhor", defendeu.
Em relação a Jeremy Hunt, o sucessor de Kwarteng, Truss referiu que é "uma pessoa com experiência no Parlamento" e em funções executivas e que "garantir a estabilidade económica é o objetivo", além de destacar que partilham as mesmas visões.
Ao longo das últimas três semanas, o Governo britânico negou vezes sem conta a possibilidade de voltar atrás com o seu plano económico, mas foi isso mesmo que aconteceu.
Primeiro, com a saída de Kwasi Kwarteng, depois com a marcha atrás no seu plano económico ao abdicar da grande bandeira da campanha eleitoral de Liz Truss. O Governo já não vai reverter a decisão tomada pelo Governo anterior de subir os impostos das empresas.
Desde que foi anunciado o plano, a 23 de Setembro, as críticas foram-se somando. Chegaram de economistas, do FMI, dos deputados da oposição e de muitos dos deputados conservadores. Principalmente, chegaram dos mercados que castigaram o plano do Governo, que se baseava nos empréstimos para suportar um corte de impostos.
Até ontem, Kwarteng continuava convencido de que o plano não ia mudar e disse que “não ia a lado nenhum”. Menos de 24 horas depois, regressou antecipadamente de uma visita aos EUA para entregar a pasta das finanças a Jeremy Hunt.
Há dois motivos para Truss ter agido agora. Primeiro, acaba hoje o plano de ajuda do banco de inglaterra ao governo, que estava a servir de equilíbrio na tempestade financeira criada pelo plano do Governo. Depois, porque por trás de portas fechadas a possibilidade de tirar Truss do poder e avançar para outro líder do partido já era discutida.
As mudanças anunciadas podem comprar algum tempo a Truss, mas a sua liderança continua em risco. É que apesar da saída de Kwasi Kwarteng, há outra questão a que Truss não escapa, e que lhe foi colocada logo na conferência de imprensa: Porque sai o ministro das Finanças que implementou o seu plano, mas não a primeira-ministra? Truss defendeu que o seu papel era dar prioridade à estabilidade económica. Para muitos dos seus deputados, ela é a razão da instabilidade existir sequer.
Ciente de que seria acusada de se tentar salvar, na sua carta de agradecimento ao ex-ministro, Truss diz respeitar a sua decisão, indicando que foi Kwarteng a querer sair. Kwarteng diz o contrário, continuando a “acreditar que a visão da primeira-ministra está correcta”. A visão da primeira-ministra. Uma visão que assentava principalmente na redução de impostos das empresas. Sem isso, que caminho tomará? Para já, fica sem o seu grande aliado político e tem um alvo permanente nas costas depois daquele que é visto como o pior início de mandato da histórias.
Há eleições daqui a dois anos e, com os Conservadores muito atrás dos Trabalhistas nas sondagens, não sobra muito tempo a Truss para convencer os eleitores - e o seu próprio partido - de que é a pessoa certa para liderar o país.