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Milhares saem à rua em Paris em protesto contra o aumento do custo de vida

16 out, 2022 - 17:45 • Lusa

Manifestação que pede a subida dos salários, mantendo a exigência de 1.600 euros líquidos de salário mínimo, acontece numa altura em que sindicatos das refinarias mantêm um braço de ferro com a empresa Total, resultando na escassez de combustíveis.

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A esquerda francesa saiu este domingo às ruas da capital para reivindicar melhores condições de vida face à inflação, num protesto que os manifestantes esperam que ganhe expressão em todo o território gaulês e consiga paralisar o país nos próximos dias.

“Gostava mesmo que este movimento se generalizasse com uma greve geral que toque todos os setores, porque está a afetar-nos a todos. As únicas pessoas que não são atingidas são os acionistas das grandes empresas“, declarou Jean-Claude, junto à Praça Nation, em declarações à agência Lusa.

O seu cartaz resumia a Marcha Contra Vida Cara convocada para este domingo pelos partidos de esquerda: Especulação + Requisição = Revolução. Do outro lado do cartaz deste professor parisiense, um camião com a palavra salário subia por uma rampa chamada inflação. Mas não é só a inflação de 5,6% que traz os franceses à rua.

“Vim para lutar contra o empobrecimento da sociedade, a luta contra a reforma das pensões, a vida cara, o aumento do salário mínimo, os aumentos dos apoios sociais, mais apoios para os jovens, por tudo isto. Estamos aqui porque somos de esquerda e estamos fartos da direita“, disse Christian, enumerando os motivos da sua mobilização.

A este protesto, previsto desde agosto pela coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), para reivindicar um aumento generalizado dos salários, mantendo a exigência de 1.600 euros líquidos de salário mínimo, juntaram-se nas últimas duas semanas as dificuldades sentidas em todo o país devido às greves nas refinarias.

Os sindicatos preferiram não juntar-se ao protesto deste domingo, convocando uma greve geral para terça-feira, numa altura que mantêm ainda um braço de ferro com a empresa Total, resultando na escassez generalizada de combustíveis. No entanto, se o sinal a nível nacional foi negativo por parte de centrais sindicais como a CGT, as federações marcaram presença em Paris.

“Para nós, sindicalistas, houve um grande ataque contra o nosso direito à greve com as requisições feitas nas refinarias e isso não é possível. O alcance destes protestos está a aumentar e é preciso que nos batamos pelos nossos direitos. Ficar em casa a discutir na sala não dá em nada, a população está a perceber o que nos estão a fazer a todos”, declarou Noella, que pertence à CGT do departamento de Cher, no centro da França.

Para Jean-Luc Melénchon, a grande figura da esquerda que apelou a esta mobilização, esta manifestação é apenas “o dia 1” de “uma conjunção entre uma mobilização popular, uma crise institucional e uma mobilização social”, que se vai desenrolar esta semana, com o possível anúncio do Governo da utilização do artigo 49.3, que força a aprovação do Orçamento sem passar pela Assembleia Nacional.

Uma manobra “frustrante” para Silene, jovem militante da França Insubmissa, o movimento de Melénchon.

“É muito frustrante porque dizem-nos sempre que as eleições e a via democrática é que vai funcionar, mas vemos que mesmo utilizando as ferramentas democráticas, o Governo consegue continuar a bloquear-nos e a tomar as decisões que bem entende. É muito triste, especialmente porque se trata do nosso futuro“, lamentou a estudante.

Para Christian, reformado, resta agora bater-se pelo futuro dos jovens, perante uma situação que só tem vindo a piorar.

“A situação só piorou. Os estudantes fazem fila para refeições quentes, nunca vimos isto. Há seis milhões de pessoas em França que comem graças à ajuda das associações, senão passavam fome”, concluiu.

Apesar de uma forte mobilização da polícia, o cortejo decorreu quase sem incidentes, com os organizadores a contabilizarem 140 mil pessoas nas ruas de Paris e as autoridades estimarem que estavam presentes cerca de 30 mil manifestantes.

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  • José Bulcão
    16 out, 2022 Almada 18:49
    Bem, é isto que admiro nos franceses, podem ter muitos defeitos mas não ficam especados quando os tentam tramar. Lá, como cá e em outros países da Europa, a conversa é sempre a mesma com a classe média sempre a perder com a história da TINA. A manter-se este cenário por muito mais tempo, passando a atualização devida dos rendimentos para as Calendas Gregas, não me parece que as Democracias se aguentem. Não sou eu que o desejo, é o conceito base de sustentação das Democracias nas classes médias que fica em causa pois, quanto mais pessoas forem penalizadas e deixarem de pertencer aquela classe, menos base de apoio teem esses regimes. Isto é dos manuais da política!

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