17 out, 2022 - 19:25 • Pedro Valente Lima
De acordo com os dados das Nações Unidas (ONU), cerca de 7,1 milhões de venezuelanos já abandonaram o país, que se encontra numa crise política e económica profunda.
Mais de metade - cerca de 4,3 milhões - enfrentam dificuldades no acesso a comida, habitação e emprego estável, segundo a ONU.
Eduard Stein, representante especial da Organização Internacional para as Migrações e do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, salienta que os "venezuelanos têm vontade de partilhar competências e conhecimentos e contribuir para as comunidades pelas quais foram generosamente acolhidos".
"Mas não conseguirão continuar se não lhes for dada uma oportunidade efetiva de integração", admite o representante.
De acordo com a ONU, apesar do "progresso atingido nas iniciativas de regularização e documentação", o relatório demonstra que há uma "necessidade urgente" de "maior proteção, acesso a serviços e oportunidades de trabalho".
"Mais de metade dos refugiados e migrantes venezuelanos não têm capacidade para três refeições diárias e têm pouco acesso a habitações seguras e dignas", escreve a ONU. Segundo o organismo internacional, muitos acabam por cair no "sexo para sobreviver" (prostituição), na mendicidade ou endividamento.
Muitas das crianças também experienciam dificuldades no acesso à educação, nomeadamente devido á "falta de vagas" nas escolas, aponta a ONU. Na Colômbia, país que mais migrantes da Venezuela acolheu, mais de um quarto das crianças venezuelanas não está na escola.
Ainda assim, diz a BBC, as dificuldades vividas não impedem as pessoas de fugirem da Venezuela. Em declarações à televisão britânica, o presidente do Comité Internacional de Resgate, David Miliband, receia que esta crise humanitária, que está "a abalar a América Latina", possa ficar esquecida entre outras crises à escala global.
"Também é claro que as prioridades da atenção global em jogo - Ucrânia, fome na África Oriental, trauma no Afeganistão - estão a drenar a atenção de uma forma relativamente perigosa."
Segundo dados da ONU, nos últimos sete anos, a população da Venezuela caiu de 30 milhões de habitantes para 28 milhões. O destino, é sobretudo, os países vizinhos da América do Sul e Caraíbas.
Na Venezuela ocorreram 14.666 apagões apenas duran(...)
A Colômbia foi o país que mais venezuelanos recebeu desde 2015: 2,48 milhões. "Muitos governos da América Latina estão a tentar fazer o mais correto ao gerir as migrações dos venezuelanos, mas é um grande desafio", confessa Miliband.
De acordo com a BBC, apesar de os migrantes optarem, sobretudo, pela Colômbia, Perú ou Equador, há um número crescente de venezuelanos que se aventuram por caminhos mais perigosos, nomeadamente em direção à América Central e do Norte.
As autoridades colombianas da região de Darién, na fronteira entre a Colômbia e o Panamá, estimam que mais de três mil migrantes, maioritariamente venezuelanos, atravessem a região todos os dias.
O trajeto, de cerca de 97 quilómetros, envolve passagens por pântanos e montanhas. A travessia pode durar até uma semana e quem a faz terá que estar em alerta máximo para possíveis tentativas de assalto ou violação.