18 nov, 2022 - 10:52 • Joana Azevedo Viana
Sviatlana Tsikhanouskaya, que venceu as eleições na Bielorrússia em 2020 e que, desde então, vive exilada na Lituânia, defendeu esta semana que o Ocidente deve focar atenções no seu país-natal — e, em particular, em Alexander Lukashenko — se quer que a Ucrânia saia vitoriosa da atual guerra contra a Rússia.
"Lukashenko colocou a Bielorrússia no centro desta crise, mas também é parte da solução. Depor Lukashenko aceleraria a vitória da Ucrânia. E não haverá uma Ucrânia segura, ou uma Europa segura, sem uma Bioelorrússia livre", escreve a candidata da oposição, forçada a exilar-se no país vizinho no rescaldo das eleições de há dois anos, que levaram a milhares de detenções no país.
"O apoio de Lukashenko à guerra ilegal de Putin é profundamente impopular na Bielorrússia", garante Tsikhanouskaya no artigo publicado no "Politico Europe", acrescentando que, "apesar de os bielorrussos se manterem esperançosos, os últimos sinais são sinistros".
"Milhões dos meus conterrâneos ficaram furiosos quando as tropas russas foram autorizadas a marchar no nosso país. Em abril, quando o regime admitiu mais de 80 manobras de diversão nos caminhos de ferro, os partisans ajudaram a frustrar um ataque da Rússia a Kiev. Dúzias deles estão a agora a aguardar julgamento, acusados de terrorismo, e enfrentam a pena de morte — Lukashenko expandiu o recurso à pena de morte contra quase todos os tipos de dissidência."
A opositora bielorrussa recorda, no mesmo artigo, que derrotou Lukashenko nas eleições gerais de 2020 "antes de terem sido roubadas com a ajuda do KGB [secreta russa], das forças de segurança siloviki e de Putin", porque ter "uma Bielorrússia democrática teria sido catastrófico para os planos de Putin de invadir a Ucrânia".
Por causa disso, "e numa tentativa de reforçar o seu antigo aliado soviético, o Presidente russo forneceu apoio financeiro e propagandistas [a Lukashenko] e preparou uma força de invasão — e, em troca, assegurou o apoio de Lukashenko à trágica invasão da Ucrânia".
Na presidência da Bielorrússia desde 1994, Lukashenko é o líder político europeu há mais tempo no poder, um "ditador repressivo profundamente impopular", refere a principal opositora no mesmo artigo.
"Menos de 25% da população apoia-o, na sua maioria prisioneiros, burocratas pró-Rússia e pessoal das forças de segurança, todos eles dependentes do Estado a nível de emprego numa economia a afundar-se. Uma ditadura assim parece invencível... até deixar de ser."
Nesse contexto, Sviatlana Tsikhanouskaya defende que a União Europeia (UE) e os EUA devem apostar numa "dupla estratégia", por um lado ajudando os bielorrussos a continuarem a lutar pela transição democrática, bem como a escaparem à repressão e à guerra, através de vistos Schengen — "um sinal de confiança para ativistas e bloggers bielorrussos de que, mesmo que o KGB venha atrás deles, têm um plano B".
"O Ocidente deve para de fingir que Lukashenko é Presidente", acrescenta a líder eleita da Bielorrússia. "Ele é um criminoso que tomou o poder ilegalmente e que deve ser julgado."
Tsikhanouskaya pede, por isso, à UE que aplique as sanções já aprovadas contra o regime bielorrusso e que colabore com os EUA para acabarem com quaisquer lacunas que permitam aos responsáveis escapar à monitorização ocidental.
Às gigantes tecnológicas Meta, Google e TikTok, pede que "sejam mais proativas a contariar as mentiras e táticas hostis do regime".