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Afinal, a polícia da moralidade acabou ou não no Irão?

05 dez, 2022 - 07:47 • Maria João Costa

Depois de três meses de protestos no Irão na sequência da morte de uma jovem de 22 anos detida por usar mal o véu islâmico, fala-se no fim da polícia da moralidade. A indicação foi avançada no sábado pelo procurador-geral iraniano.

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Será que a polícia da moralidade acabou?

Essa é a questão com que o mundo e muitos iranianos debatem esta segunda-feira. E há ainda um ponto de interrogação, porque não há uma confirmação oficial do regime, depois de o procurador-geral iraniano ter dito no sábado uma frase que parece ter aberto a porta a uma mudança estrutural no Irão.

O que disse o procurador-geral Mohammad Jafar Montazeri?

Numa conferência de caráter religioso, na cidade de Qom, considerada o centro teológico do Irão, o procurador-geral iraniano terá afirmado que “a polícia da moralidade não tem nada a ver com o poder judiciário, foi fechada onde tinha sido instalada”.

Acontece que até ao momento, nem o Ministério do Interior que tutela esta polícia de costumes, nem outra fonte do regime veio confirmar oficialmente as palavras do procurador.

Já no sábado – avança a BBC – o mesmo procurador-geral terá dito no parlamento iraniano que a lei que obriga as mulheres a usarem o véu islâmico seria revista.

Podem ser indícios de uma mudança profunda nos hábitos para as mulheres iranianas?

Desde setembro – mês em que morreu Masha Amini, a jovem de origem curda de 22 anos detida pela polícia de costumes - há relatos que indicam haver cada vez menos polícias da moralidade nas cidades iranianas.

Mas há alguma apreensão, mesmo por parte das mulheres que há 70 dias protestam. Ontem mesmo, à BBC uma iraniana dizia que as manifestações não vão terminar, mesmo que o regime desmantele a polícia da moralidade e mesmo que digam que o véu islâmico é uma escolha pessoal”. Em causa, explicava esta mulher, querem mudanças mais profundas a nível político.

Os protestos nas ruas acabaram?

Não, esta segunda-feira já foram marcados novos. Os ativistas iranianos convocaram manifestações para os próximos três dias, com mobilizações e greves. Para quarta-feira está mesmo marcado um encontro na praça central de Azadi.

O que é esta polícia da moralidade? Para que foi criada?

Desde 1979, ano da Revolução Islâmica no Irão que passou a ser obrigatório as mulheres usarem o “hijab” – o chamado véu islâmico. Já existiram várias forças a verificar o cumprimento deste hábito, mas esta polícia da moralidade intensificou a sua ação em 2006, durante a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, e passou a patrulhar as ruas em carrinhas verdes de brancas.

Verificam se as mulheres seguem a conduta de vestuário, se não usam roupas demasiado justas, ou se não expõem demasiado o corpo. Caso verifiquem algo que considerem que pisa as normas, podem levar as mulheres detidas.

Mas esta polícia também verifica por exemplo, o consumo de álcool ou o convívio entre homens e mulheres que não sejam da mesma família. Muitas vezes abordam as pessoas na rua, podem mesmo detê-las e, como já se verificou com graves consequências.

Que consequências têm tido os protestos dos últimos meses?

Os dados, mais uma vez, carecem de confirmação independente, mas segundo algumas organizações de direitos humanos, os protestos dos últimos 3 meses já terão provocado a morte a 470 pessoas.

A Human Rights Activists – um grupo iraniano que tem acompanhado as manifestações apontam que nestes cerca de 70 dias já foram detidas mais de 18 mil pessoas.

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