05 dez, 2022 - 13:08 • Lusa
As autoridades judiciais iranianas anunciaram esta segunda-feira que vão ser executados em breve alguns dos condenados à morte por participação nas manifestações contra o regime que se prolongam desde o final de setembro.
Gholamhosein Mohseni Ejei, responsável pelo poder judicial do Irão, afirmou que foram confirmadas por instâncias superiores algumas das condenações à morte de manifestantes acusados de "corromperem a terra" e de estarem em "guerra contra Deus".
De acordo com o jornal Shargh, as condenações vão ser "aplicadas em breve", disse Ejei durante um discurso perante os membros do Conselho Supremo do Poder Judicial.
Pelo menos seis pessoas foram já condenadas à morte pela participação nos protestos que se registam no país desde o passado dia 16 de setembro, após a morte da jovem Mahsa Amini por usar o véu islâmico de forma incorreta.
Os seis manifestantes foram acusados de "guerra contra deus" assim como de terem "corrompido a terra", conceitos que se englobam nos delitos contra o Islão e a segurança pública do Irão.
Explicador
Depois de três meses de protestos no Irão na sequê(...)
As autoridades judiciais acusaram mais de duas mil pessoas de diversos crimes pela participação nos protestos contra a manutenção da República Islâmica.
Pelo menos 21 pessoas podem vir a ser condenadas à morte pela participação nas manifestações.
Ejei disse ainda que "vários desordeiros" foram condenados a penas de prisão, sem especificar o tempo da condenação.
Entre os condenados a penas de prisão encontra-se o repórter fotográfico Ahmadreza Halabisaz, que disse ter sido condenado a cinco anos de cadeia.
O tribunal que condenou Halabisaz não autorizou que o réu tivesse acesso a advogados de defesa.
Em quase três meses de protestos morreram mais de 400 pessoas e pelo menos 15 mil manifestantes foram detidos, de acordo com a organização não-governamental Iran Human Rights, com sede na Noruega.
A forte repressão policial e a atuação do poder judicial não evitaram as convocatórias para as manifestações que se vão realizar nos próximos três dias.
No sábado, o procurador-geral Mohamed Jafar Montazeri disse à agência INSA que a polícia da moralidade "foi encerrada".
A agência não forneceu detalhes e os jornais estatais não se referiram a esta suposta decisão.
A agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP) não conseguiu confirmar o atual estatuto desta força policial, estabelecida em 2005, que tem como função deter e questionar pessoas que violam o código de vestuário islâmico.
Desde setembro que diversos relatos indicam uma redução do número de polícias da moralidade nas cidades iranianas e um aumento do número de mulheres sem o véu islâmico nos espaços públicos, em contrariedade com a legislação.
O procurador-geral Montazeri não forneceu mais detalhes sobre o futuro da polícia da moralidade, ou se a extinção do corpo é aplicável a nível nacional e de forma permanente.
No entanto, acrescentou Montazeri, o sistema judiciário iraniano "vai continuar a examinar o comportamento ao nível da comunidade".
Na sexta-feira, a agência ISNA reproduziu declarações de Montazeri nas quais assegurou que o Governo estava a rever a lei obrigatória sobre o uso do hijab para as mulheres.
"Estamos a trabalhar rapidamente sobre a questão do hijab e a fazer o nosso melhor para garantir uma solução sensata para abordar este fenómeno que fere o coração de qualquer pessoa", disse Montazeri, sem adiantar mais detalhes.