10 dez, 2022 - 11:23
Pelo menos duas dezenas de manifestantes iranianos enfrentam uma possível execução como resposta das autoridades à sua participação nos protestos contra o Governo, segundo uma reportagem publicada no jornal local Etemad.
O referido jornal deu a conhecer uma lista elaborada pelas autoridades iranianas em que 25 manifestantes são acusados de "travar uma guerra contra Deus", acusação que, segundo a lei iraniana, é punível com a morte.
Na lista está o rapper Mohsen Shekari, que foi executado na quinta-feira de manhã, acusado de agredir um segurança com uma arma, incitar ao terror e bloquear uma autoestrada.
As autoridades judiciais iranianas já anunciaram que novas execuções serão realizadas, enquanto grande parte da comunidade internacional e os setores nacionais mais críticos, como o próprio Etimad, pedem às autoridades que revejam as sentenças e evitem novas execuções.
A morte de Shekari já atraiu forte condenação no país e no exterior, embora líderes políticos iranianos, incluindo o Presidente Ebrahim Raisi, tenham descrito a execução como uma resposta legítima à agitação em todo o país.
Os manifestantes ameaçaram agir em resposta e espalharam a mensagem "Esperem pela nossa vingança" nas redes sociais. Enquanto isso, internacionalmente, a população iraniana também anunciou novos protestos antigovernamentais ao longo do fim de semana.
O Irão é palco de protestos desde meados de setembro, quando Mahsa Amini, uma jovem curda, morreu sob custódia da polícia após ser presa por não usar o véu adequadamente e violar os códigos de vestimenta islâmicos.
Desde então, enquanto ocorriam as mobilizações, as autoridades reprimiam-nas violentamente, ganhando assim novas sanções da comunidade internacional por questões relacionadas aos Direitos Humanos. No entanto, de Teerão não consideram que estão a dar argumentos para as mobilizações e acusam os "inimigos" do Irão e os "mercenários" de estarem por detrás dos protestos massivos.
As autoridades consideram que a maioria dos iranianos continua a apoiar o sistema islâmico.
Em quase três meses de protestos, morreram mais de 500 pessoas e pelo menos 15.000 foram detidas, segundo a ONG Iran Human Rights.
As autoridades iranianas estimaram em 300 o número de mortos, 50 dos quais membros das forças de segurança do país.
Após quase três meses de contestação social, foi anunciada, de forma algo confusa, a dissolução da polícia da moralidade, responsável pela detenção e morte de Amini, mas o anúncio não acalmou a situação, agora agravada pela execução do primeiro manifestante. Além disso, o desaparecimento das patrulhas dessa força policial não implicou o fim das leis que impõem o uso obrigatório do véu e outras normas sociais rígidas no país.