28 dez, 2022 - 00:13 • Lusa
A União Europeia (UE) e o Brasil devem estabelecer uma "parceria estratégica para o clima" com o regresso de Lula da Silva à Presidência brasileira, defende um manifesto subscrito por personalidades portuguesas e brasileiras.
O manifesto "Clima Estável -- Património Comum da Humanidade", a que a Lusa teve acesso, considera que a "parceria estratégica entre a UE e o Brasil tendo o espaço mais vasto do Mercosul como horizonte, oferece a perspetiva de um multilateralismo renovado que privilegia as relações inter-regionais, num quadro internacional caracterizado por um enfraquecimento do multilateralismo, agravado pelas crises graves que se têm sucedido".
O documento junta antigos governantes, deputados e eurodeputados, professores universitários, escritores, artistas plásticos e músicos e ativistas pelo clima.
No texto de apresentação do manifesto, os subscritores defendem que "as organizações da sociedade civil e os jovens ativistas do clima devem ser reconhecidos como atores importantes de um multilateralismo inclusivo e as suas preocupações com o impacto das crises climáticas sobre as comunidades socialmente discriminadas tomadas plenamente em consideração".
Os signatários destacam que a Parceria Estratégica UE-Brasil/Mercosul deveria ser construída à volta de quatro prioridades: Definir a defesa do ambiente e biodiversidade como orientação estratégica das suas relações; Uma nova estratégia para cumprir os objetivos dos acordos de Paris; Criar um fundo UE-Mercosul para a floresta e O Clima estável como Património Comum da Humanidade.
"A vitória de Lula da Silva e o regresso do Brasil ao seu lugar indispensável na política internacional criam condições favoráveis para, a partir da questão ambiental/climática, construir uma resposta capaz, com efeitos de cascata nas mais variadas áreas, assente num multilateralismo eficaz", defende o manifesto.
Os signatários consideram que a partir da tomada de posse do Presidente Lula da Silva, no próximo dia 1 de janeiro, "se deveriam retomar as conversações entre a UE e o Brasil, com vista à formação de uma parceria estratégica por um ambiente sustentável, que deveriam relançar também a renegociação do acordo UE-Mercosul, a partir das preocupações manifestadas dos dois lados do Atlântico".
"Estas negociações são ainda mais importantes no novo contexto de ausência de resultados satisfatórios da [cimeira para o clima] COP27, que demonstraram até que ponto o 'business as usual' já não é a resposta adequada para enfrentar as ameaças ambientais e a biodiversidade, que põem em risco os sistemas de suporte à vida na Terra, quer em termos de redução de emissões, quer no abandono dos combustíveis fósseis", acrescentam.
Entre os subscritores do manifesto figuram, pelo Brasil, o ex-chefe da diplomacia Celso Lafer, o ex-ministro das Finanças, Rubens Ricupero, o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, a ex-ministra do Ambiente Izabella Teixeira, a atriz Zezé Mota e os ativistas indígenas Tainara Kabenba e Telma Marques Taurepang.
Do lado português, integram a lista o ex-ministro da Educação Guilherme de Oliveira Martins, o ex-ministro da Economia Luís Braga da Cruz, a ex-ministra do Trabalho Maria João Rodrigues, o eurodeputado e ex-secretário de Estado do Ambiente Carlos Pimenta, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus Francisco Seixas da Costa, o investigador Álvaro Vasconcelos, o presidente da organização ambientalista Zero, Francisco Ferreira, o ex-juiz do Tribunal de Justiça da UE José Luis Cruz Vilaça e o professor universitário Viriato Soromenho Marques.