09 jan, 2023 - 11:12 • Pedro Valente Lima
As autoridades brasileiras estão a investigar a suposta leniência da polícia no momento da invasão aos três poderes, em Brasília, este domingo. Governador e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal já foram afastados.
As forças de segurança estão sob suspeita, sobretudo depois de terem escoltado os apoiantes de Bolsonaro até à Esplanada dos Ministérios, apesar das instruções iniciais para vedar o acesso à zona.
A partir deste ponto, tornou-se mais fácil para os invasores acederem ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal. As imagens, que já circulam em massa nas redes sociais, revelam uma ação leviana dos agentes de autoridade face à invasão que se proporcionou.
Por outro lado, as fotografias e vídeos publicados não só demonstram uma relativa descontração, como apresentam agentes da polícia a conversar e até a sinalizar o seu apoio ao movimento bolsonarista. Houve até tempo para uma pausa e refrescar com água de côco.
O ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, admite que houve uma falha grave de segurança. “Existe um contingente [guarda presidencial] dedicado à proteção da sede da Presidência e os factos mostram que esse contingente não atuou. Porquê que isso aconteceu?"
O governante anunciou ainda que o Ministério da Defesa iria lançar uma investigação a apurar os acontecimentos deste domingo.
Já Lula da Silva também criticou a ação da Polícia Militar do Distrito Federal, acusando-os de "incompetência, má vontade e má fé".
O Presidente do Brasil aponta o dedo ainda aos governantes diretamente responsáveis pelas forças de segurança em Brasília, nomeadamente o governador Ibaneis Rocha e o agora ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, também ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.
"Todo o mundo sabe a fama dele [Anderson Torres] de ser conivente com as manifestações. Então, a intervenção vai cuidar disso", rematou o chefe de Estado brasileiro.
Aliás, de acordo com a BBC Brasil, a Advocacia-Geral da União (AGU) chegou a pedir prisão para Anderson Torres, por "supostas omissões" de informação que levaram à invasão, numa petição enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Ainda decorria a invasão aos três poderes, quando o ex-secretário de Segurança Pública de Brasília foi demitido pelo governador, Ibaneis Rocha.
No entanto, também o próprio foi afastado da governação, mas desta vez por um período de 90 dias. Segundo o juiz Alexandre de Moraes, do STF, o governante terá cometido atos preparatórios de terrorismo, associação criminosa, dano, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
“A escalada violenta dos atos criminosos (...) somente poderia ocorrer com a anuência, e até participação efetiva, das autoridades competentes pela segurança pública e inteligência, uma vez que a organização das supostas manifestações era facto notório e sabido."