16 jan, 2023 - 08:00 • Ana Carrilho
Emprego global cresce menos de metade do que em 2022 e vai obrigar muitos trabalhadores a aceitarem empregos piores, mais mal pagos e com um número de horas reduzido. A juntar à perda de rendimentos por causa da Covid-19, fará aumentar o número de pessoas em situação de pobreza.
Estas são algumas conclusões apresentadas no Relatório da Organização Internacional do Trabalho “Perspetivas Sociais e de Empego no Mundo - Tendências 2023”, divulgado esta segunda-feira.
A desaceleração do crescimento global de emprego e a pressão exercida sobre as condições de trabalho podem comprometer a justiça social. Abrandamento económico que pode forçar muitos trabalhadores a aceitarem empregos de pior qualidade, mal remunerados, precários e sem proteção social, agravando ainda mais as desigualdades exacerbadas pela pandemia do Covid-19.
E como os preços aumentam a um ritmo mais acelerado do que os rendimentos do trabalho, muitos trabalhadores podem ser empurrados para a pobreza, sublinha o Relatório da OIT.
Deterioração do mercado de trabalho que se deve, principalmente a tensões geopolíticas emergentes e ao conflito na Ucrânia, a uma recuperação desigual da pandemia e aos contínuos estrangulamentos nas cadeias de abastecimento globais. “São fatores que criaram condições para a estagflação – uma inflação elevada e, em simultâneo, um baixo crescimento económico -o que acontece pela primeira vez desde os anos 70”, diz a Organização Internacional do Trabalho.
O Relatório Perspetivas Sociais e de Emprego no Mundo – Tendências 2023 prevê que o crescimento global de emprego, este ano, será apenas de 1,0%. Ou seja, menos de metade do crescimento de 2022.
Por outro lado, o desemprego global deverá aumentar ligeiramente em 3 milhões de pessoas (para um total de 208 milhões de desempregados, o que gera uma taxa de desemprego global de 5,8%). Uma estimativa moderada que se deve, em parte segundo a OIT, à escassez de mão-de-obra em países de rendimento mais elevado.
As mulheres e os jovens continuam a ser os mais atingidos e em maior risco de pobreza. Globalmente, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho era, em 2022, de 47,4%; a dos homens era mais 25%. Ou seja, por cada homem economicamente inativo, há duas mulheres na mesma situação.
Quanto aos jovem ( entre os 15 e os 24 anos) têm grande dificuldades em encontrar e manter um emprego digno. Quase um quarto (23,5%) são NEET. Ou seja, jovens que não trabalham, não estudam nem estão em qualquer projeto de formação. A taxa de desemprego é 3 vezes superior à dos adultos.
Para Richard Samans, diretor do Departamento de Investigação da OIT e coordenador do Relatório, “a desaceleração do crescimento global de emprego significa que não é expectável que as perdas sofridas durante a COVID-19 sejam recuperadas antes de 2025”.
Por seu turno, o Diretor Geral da OIT frisa que a necessidade de mais trabalho digno e justiça social é clara e urgente. Para o conseguir, Gilbert F. Houngbo defende a criação de um novo contrato social. “A OIT vai fazer campanha por uma Coligação Global para a promoção da justiça social com vista a ganhar apoios, criar medidas políticas necessárias e preparar-nos para o futuro do Trabalho”.