16 fev, 2023 - 08:31 • Lusa
A ajuda internacional que chega ao norte da Síria, fortemente afetada pelo sismo no sudeste da Turquia, é insuficiente, com pessoas a dormirem nas ruas sem qualquer tipo de abrigo, afirmam organizações não governamentais no terreno.
Mahmoud Chehadi, sírio de Alepo, fundou a organização não governamental (ONG) Orange há sete anos, na cidade turca de Gaziantep, e até ao sismo os seus principais objetivos eram a educação e a melhoria das condições de vida, tanto no sudeste da Turquia como no norte da Síria.
Mas após o sismo de 6 de fevereiro, "tudo mudou", conta à agência Lusa Mahmoud Chehadi, que tem dado resposta a pessoas afetadas pelo sismo na Turquia, mas que desde o primeiro dia esteve em cidades afetadas no norte da Síria, como Afrin, Jenderis ou Jarabulus, onde já tinha uma equipa no terreno.
O próprio diretor da Orange esteve há três dia em Azaz, Afrin e Jenderis, onde encontrou "uma situação terrível".
"Há muita gente afetada. Em Jenderis, eu não vi uma única casa de pé. Há seis mil famílias e, nos primeiros dois dias, dormiram na rua, sem qualquer abrigo", disse Chehadi à agência Lusa.
A sua ONG e outras com trabalho no norte da Síria tentaram dar a melhor resposta possível, mas falta-lhes escala e capacidade "para dar apoio a tanta, tanta gente".
"Houve uma demora na resposta por parte das organizações internacionais e continua a haver uma grande necessidade de ajuda dentro da Síria. Há ainda muitas famílias na rua, sem qualquer tipo de abrigo", contou.
Mahmoud salientou ainda que estas cidades e vilas já estavam muito afetadas pela guerra civil que eclodiu na Síria em 2011, com infraestruturas precárias e deficientes.
"Após o sismo, tudo ficou pior", notou, elencando como necessidade prioritária tendas, seguida de comida e roupa.
O diretor da Orange sublinhou que as organizações internacionais chegaram muito tarde, numa região onde à noite, nesta altura do ano, podem ser registadas temperaturas de três a cinco graus negativos.
Para além do apoio imediato, há também necessidade de ajuda na limpeza das ruas e remoção dos escombros, em locais onde o Estado é inexistente e onde falta maquinaria pesada para fazer esse trabalho.
O diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que os sobreviventes do sismo de 06 de fevereiro na Síria precisam de condições adequadas de alojamento e acesso a cuidados médicos, alimentos e água potável.
"Pude ver, em primeira mão, a destruição de comunidades inteiras, o enorme sofrimento da população e a coragem dos sobreviventes e dos serviços de resposta aos sismos", disse, em conferência de imprensa.
Na terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou um apelo humanitário de 397 milhões de dólares (369,3 milhões de euros) destinado a ajudar o povo sírio por três meses após os sismos que atingiram a Síria e a Turquia.
O número de mortos pelos dois sismos, de força 7,7 e 7,6, já ultrapassa 35.000 na Turquia e 5.000 na Síria, mas teme-se que ainda possa subir mais.
Também Abulrahman Dadam, diretor da Önder, outra ONG sediada em Gaziantep e que trabalha com a comunidade síria afetada pela guerra, elenca as tendas como prioridade.
"Há ainda, pelo menos, três mil famílias sem qualquer tenda. O que precisam mais é de tendas, para aguentar as noites. Há famílias sentadas nas ruínas", afirmou o responsável daquela ONG criada há cinco anos, que falava à Lusa enquanto passava, mais uma vez, a fronteira da Turquia com a Síria para prestar apoio a desalojados em Jinderis, Afrin e Jarabulus.
Entrou no norte da Síria dois dias após o sismo e, desde então, tem sido um vai e vem, entre a cidade turca de Gaziantep (a uma hora da fronteira) e o país vizinho.
Nos primeiros dias enviou água e comida, agora faz seguir aquecedores, medicamentos e criou postos médicos e serviços para pessoas com deficiências que sobreviveram ao sismo.
"O apoio não é suficiente", confirma Abdulrahman Dadam, notando ainda que, apesar de não ter tido qualquer problema em entrar na Síria, o mesmo não acontece com os sírios que agora tentam chegar à Turquia.
"Como estão também a sofrer por causa do sismo, não estão a aceitar pessoas da Síria", explicou.