05 abr, 2023 - 19:51 • Pedro Mesquita
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Mera propaganda russa a partir de casos reais que são descontextualizados. É desta forma que o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal reage à acusação do embaixador russo na ONU, de que Portugal, Espanha e Alemanha terão retirado "centenas" de crianças ucranianas às suas mães para as colocar em estruturas de acolhimento.
Pavlo Sadokha diz à Renascença que não foi detetado, até agora, qualquer caso em que crianças ucranianas tenham sido injustamente retiradas aos seus pais, em Portugal.
Um dos testemunhos-vídeo, apresentados pelo embaixador russo na ONU, corresponde a Alina Komisarenko, da cidade de Zaporijia, a dizer que o seu filho foi levado pelo sistema juvenil em Portugal. Foi retirado, mas por existirem suspeitas de maus tratos, refere Pavlo Sadokha.
Faz sentido a denúncia apresentada pela Rússia, nas Nações Unidas, também sobre Portugal?
Não faz sentido. Há um mês eu reparei que existe um blogger pró-russo, que faz os seus vídeos no YouTube, e que recolhe estas casos. São casos reais, mas são casos complicados porque na maioria deles houve problemas com os pais e, portanto, os serviços de Segurança Social tinham que intervir e defender direitos das crianças.
Vamos a casos concretos. Um dos depoimentos que as autoridades russas apresentaram numa reunião informal do Conselho de Segurança foi um vídeo de Alina Komisarenko, de Zaporijia, dizendo que o seu filho foi levado pelo sistema juvenil em Portugal. Isto é um caso verdadeiro?
O caso é verdadeiro, mas é usado na propaganda russa. Foi o caso de um casal ucraniano a que as crianças foram retiradas porque houve alguns problemas. Mas eu vi este vídeo no YouTube, na interpretação de um blogger pró-Putin que interpretou à sua maneira este caso.
Mas por que é que a criança foi retirada à sua mãe em Portugal, e institucionalizada?
Eu não gostava de comentar, porque ainda está em investigação...
Mas trata-se de um caso de alegados maus-tratos, por exemplo, da mãe à criança?
Sim, sim. Foi esse caso. Não tenho pormenores. Eu já falei com o advogado que está a acompanhar este caso. Para já, posso dizer que em breve esta criança vai regressar aos pais… à mãe, porque ela está sozinha aqui.
Mas este caso foi interpretado pela propaganda russa como se, em Portugal, as crianças fossem retiradas [aos pais] sem razão nenhuma, que estes pais, ou mães, não têm advogados, que não têm tradutores. Portanto, mostra-se uma imagem muito terrível. Até parece que, em Portugal, os direitos das crianças não são protegidos.
O que me está a dizer, basicamente, é que aquilo que aconteceu é filho de Alina Komisarenko foi aquilo que se passaria com qualquer outra criança, de uma família portuguesa?
Exato. Não faz nenhuma diferença entre as crianças de qualquer nacionalidade, ou dos portugueses que estão cá.
Tem ideia de quantas crianças ucranianas estão institucionalizadas em Portugal?
Não, não tenho ideia de quantas. Sei que há alguns casos, mas estamos a ver que, em princípio, o que acontece às vezes é a falta de tradução para as mães, sobre os seus direitos. Mas depois, quando intervém a justiça, quando entram os advogados, estes casos são resolvidos. Não acompanhamos nenhum caso, ainda, em que as crianças tenham sido retiradas [aos pais] por causas injustas, ou por causa da nacionalidade.