05 abr, 2023 - 19:34 • Lusa
O Presidente russo, Vladimir Putin, acusou hoje os Estados Unidos de serem responsáveis pelo conflito na Ucrânia e a União Europeia (UE) de ter iniciado um "confronto geopolítico" com a Rússia.
Putin falava em Moscovo, na cerimónia em que recebeu as cartas de acreditação de 17 novos embaixadores estrangeiros na Rússia, entre os quais a dos Estados Unidos, a diplomata de carreira Lynne M. Tracy, o da UE, o francês Roland Galharague, e o da Dinamarca, Jacob Henningsen.
"As relações entre a Rússia e os Estados Unidos, das quais dependem a segurança e a estabilidade do mundo, atravessam infelizmente uma crise profunda", sublinhou Putin durante a cerimónia realizada no Kremlin.
"Não posso deixar de dizer que o apoio dos Estados Unidos (...) ao golpe de Estado em Kiev em 2014 levou, no fim de contas, à atual crise ucraniana", declarou o Presidente russo, referindo-se à revolução de 2014, também designada como Revolução da Dignidade, que começou com intensas manifestações na praça Maidan, em Kiev, contra o Governo do então Presidente, Viktor Yanukovich, favorável a Moscovo, e desencadearam a sua deposição.
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Putin acrescentou ainda: "Nós sempre defendemos o estabelecimento de relações russo-norte-americanas exclusivamente assentes nos princípios de justiça, do respeito pela soberania e pelos interesses do outro e da não-ingerência nos assuntos internos. Guiar-nos-emos por eles no futuro".
Pouco depois, ao receber as cartas de acreditação do novo embaixador da UE em Moscovo, Roland Galharague, Putin também disparou críticas ao comportamento de Bruxelas.
"A União Europeia iniciou um confronto geopolítico com a Rússia", acusou Putin no seu discurso no Kremlin, considerando que as relações russas com o bloco comunitário europeu, que tem fornecido à Ucrânia apoio fundamental, "se deterioraram fortemente nos últimos anos".
Tais declarações ilustram a crise diplomática em curso entre a Rússia e os países ocidentais por causa da guerra na Ucrânia, que as tropas russas invadiram a 24 de fevereiro do ano passado e que prossegue ainda, mais de um ano depois, com um número de vítimas impossível de determinar e que aumenta diariamente.
Embora não tenham sido cortadas, as relações diplomáticas entre Moscovo e o Ocidente degradaram-se como nunca desde o fim da Guerra Fria.
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A apresentação de credenciais da nova embaixadora dos Estados Unidos ocorre também uma semana após a detenção na Rússia de um jornalista norte-americano, Evan Gershkovich, por acusações de "espionagem" rejeitadas pela Casa Branca.
Lynne Tracy, uma diplomata de carreira russófona que já trabalhou na Rússia e em várias outras ex-repúblicas soviéticas, foi oficialmente nomeada em setembro passado pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, para ocupar este cargo muito sensível, em substituição de John Sullivan, nomeado pelo anterior chefe de Estado dos EUA, Donald Trump, e que abandonara o cargo no verão passado por razões familiares.
Na realidade, a diplomata assumiu as suas novas funções já há várias semanas.
No final de janeiro deste ano, quando se deslocou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para apresentar uma cópia das suas cartas de acreditação, foi recebida por manifestantes gritando palavras de ordem anti-norte-americanas.
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Na cerimónia de apresentação de credenciais dos novos embaixadores, Putin aproveitou ainda a ocasião para instar a Dinamarca a apoiar a proposta russa de criar de uma comissão internacional para investigar de forma independente a "sabotagem" dos gasodutos Nord Stream, que ficaram inutilizáveis no ano passado devido a uma explosão em alguns dos seus tubos no mar Báltico.
"Esperamos, senhor embaixador, que a parte dinamarquesa apoie as nossas propostas de constituição de uma comissão internacional independente para apurar todas as circunstâncias do sucedido", disse Putin ao chefe da delegação diplomática de Copenhaga, Jacob Henningsen.
Em setembro passado, as explosões que danificaram a tubagem dos gasodutos Nord Stream e Nord Stream 2, construídos pela Rússia para transportar o seu gás até à Alemanha, ocorreram nas zonas económicas exclusivas da Suécia e da Dinamarca.
Ambos os países consideram que se tratou de um ato deliberado, mas a Rússia utilizou termos mais fortes, classificando as explosões como "sabotagem" e "ato terrorista".
O Kremlin insistiu em que a investigação deve ser "transparente e inclusiva", exigindo que também a Rússia participe nela, e não apenas a Suécia, a Dinamarca e a Alemanha.