15 abr, 2023 - 22:46 • Lusa
Jack Teixeira, o jovem de 21 anos detido na quinta-feira por suspeita de divulgação de documentos militares confidenciais norte-americanos, foi hoje descrito à Lusa como "um rapaz normal" por um ex-colega de escola lusodescendente.
Em North Dighton, nas proximidades da residência onde Jack Teixeira vivia e onde foi detido, o jovem Josh Medeiros falou brevemente com a Lusa sobre o caso que abalou a pacata localidade no estado de Massachussets. De acordo com Medeiros, Jack Teixeira "era um rapaz normal" nos tempos em que frequentavam a mesma escola no segundo ciclo.
Contudo, apesar de viverem a apenas 3,5 quilómetros de distância, os dois perderam o contacto nos últimos anos.
"Não sei realmente o que se tem passado com ele, já não falamos há alguns anos, desde que frequentávamos a mesma escola. Posteriormente fomos para escolas diferentes e perdemos o contacto. Mas ele era um rapaz normal. Não sei no que ele se tornou, mas era um rapaz normal naquela ocasião", disse.
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"Já não me lembrava da sua existência, se não fosse este caso", acrescentou o jovem lusodescendente. A mãe de Teixeira, Dawn Dufault, e o seu padrasto, Thomas Dufault, moram em North Dighton, numa área florestal, onde a mulher mantém um negócio de floricultura.
Na página da rede social Facebook do seu negócio de flores, Dawn frequentemente elogiava as conquistas académicas e profissionais do filho.
"Jack volta hoje para casa, com a escola técnica completa, pronto para começar a sua carreira na Guarda Aérea Nacional", escreveu a mulher em 03 de junho de 2021, na legenda de uma fotografia de um balão de boas-vindas, segundo o jornal New York Post.
A Lusa verificou junto à casa da família de Jack Teixeira que o negócio de flores se encontra fechado pelo menos desde quinta-feira, desde a detenção do jovem, um membro da Guarda Aérea Nacional do Massachusetts de 21 anos, suspeito de divulgação de documentos militares confidenciais.
Dois moradores da região falaram com a Lusa sobre o caso e, apesar de serem de áreas políticas diferentes - um Democrata e outro Republicano - ambos consideraram inconcebível o facto de um jovem de 21 anos ter acesso a informação tão sensível e sigilosa.
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"É apenas um miúdo que acabou de arruinar a própria vida. A culpa é dos seus superiores militares, que lhe deram acesso a este tipo de material. Tudo isso, conjugado com a imaturidade de um rapaz de 21 anos, que quis mostrar poder perante um grupo de amigos, resultou neste desfecho", disse à Lusa Robert, um Democrata da região de Nova Inglaterra.
"É uma questão de ego masculino e isso é algo que tem prejudicado os Estados Unidos", acrescentou.
Também Aleksy, um fiel apoiante de Donald Trump e do lema "America First" (América Primeiro, na tradução para português), considerou que a culpa pesa sobre os militares que deram a Jack Teixeira a possibilidade de aceder a informação confidencial e defendeu que o despedimento desses superiores era uma ação justa a adotar.
"Espero que este caso sirva de exemplo e que o rapaz fique na prisão pelo resto da vida", afirmou o Republicano.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ordenou na sexta-feira que os serviços de informações "protejam ainda mais" os documentos confidenciais, após este caso que abalou Washington nos últimos dias.
"Enquanto continuamos a determinar a autenticidade desses documentos, instruí as agências militares e de informações para tomarem medidas para proteger e limitar ainda mais a distribuição de informações confidenciais. A nossa equipa de segurança nacional está a coordenar-se de perto com os nossos parceiros e aliados", disse o Presidente norte-americano.
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Biden também elogiou a investigação ao caso em curso, bem como a resposta rápida das autoridades, perante a fuga dos documentos classificados do Pentágono (Departamento de Defesa norte-americano), alguns dos quais com informação sensível sobre a guerra na Ucrânia.
O principal suspeito da fuga dos documentos militares confidenciais, Jack Teixeira, membro da Guarda Nacional Aérea de Massachusetts, foi já presente a um juiz em Boston e formalmente acusado de "retenção e transmissão não autorizadas de informações de defesa nacional" e de "remoção e retenção não autorizadas de documentos ou materiais classificados".
Jack Teixeira vai ficar preso preventivamente até à audiência de detenção, na quarta-feira, decidiu igualmente o tribunal federal de Boston.
Os documentos publicados "online" revelam preocupações dos serviços secretos norte-americanos sobre a viabilidade de uma contraofensiva ucraniana contra as forças russas, que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, devido a problemas de falta de instrução militar e de logística, bem como as preocupações dos Estados Unidos sobre a capacidade de Kiev continuar a defender-se dos ataques de Moscovo.
Dezenas de fotografias desses documentos foram divulgadas nas plataformas Twitter, Telegram ou Discord nos últimos dias. Algumas delas estiveram a circular na Internet durante semanas, senão meses, antes de atrair a atenção da imprensa.