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Chefe de diplomacia da UE classifica Nicarágua como "uma ditadura pura e dura"

20 abr, 2023 - 20:30 • Lusa

Borrell recordou que o bloco comunitário europeu "criticou e condenou as violações dos direitos humanos que ali ocorrem", mas que, apesar disso, mantém, na medida do possível, "a ajuda e a cooperação" no país latino-americano.

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O chefe da diplomacia da União Europeia (UE) afirmou hoje que a posição desta sobre a Nicarágua "é muito clara" e que a expulsão do novo embaixador europeu em retaliação ao seu apelo para a democracia não "vai silenciá-la".

"A nossa posição em relação à Nicarágua é muito clara: pensamos que é uma ditadura pura e dura, dura, dura", afirmou o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, numa entrevista à agência de notícias espanhola EFE.

Borrell recordou que o bloco comunitário europeu "criticou e condenou as violações dos direitos humanos que ali ocorrem", mas que, apesar disso, mantém, na medida do possível, "a ajuda e a cooperação" no país latino-americano.

"E sim, de vez em quando acontece isto: como não gostam das nossas críticas, retiram os cargos aos nossos embaixadores. Já aconteceu com a Venezuela, mas isso não nos vai silenciar", assegurou.

Na terça-feira, o regime do Presidente Daniel Ortega retirou o cargo concedido ao novo embaixador da UE no país, Fernando Ponz, devido ao "intrometido, atrevido e insolente comunicado" divulgado pelo organismo comunitário sobre a crise que nos últimos cinco anos se vive no país centro-americano.

No comunicado de terça-feira, emitido por Borrell, a UE afirmava apoiar uma solução "democrática, pacífica e negociada" para a crise sociopolítica na Nicarágua, cinco anos após o início da contestação popular ao Governo de Ortega.

Recordava também a "condenação sistemática" pela UE da repressão de manifestantes e que tem "reiteradamente pedido a libertação de todos os presos políticos, o pleno retorno ao Estado de Direito e o regresso das organizações internacionais de direitos humanos ao país".

Sublinhava igualmente que a UE tem regularmente incentivado o Governo da Nicarágua a entabular um diálogo genuíno e inclusivo com o povo nicaraguense sobre "as suas legítimas reivindicações".

E ainda vincava que passaram cinco anos "desde que milhares de cidadãos nicaraguenses saíram à rua para expressar as suas legítimas reivindicações sobre direitos humanos, em particular os direitos civis e políticos, e pelo regresso da democracia", lamentando que "em vez de as suas exigências serem ouvidas e respeitadas, o povo da Nicarágua enfrente desde então uma repressão sistémica".

A crise política que se vive na Nicarágua começou com os protestos de 18 de abril de 2018 contra as alterações feitas ao sistema de segurança social do país.

Essa contestação popular saldou-se na morte de pelo menos 355 pessoas, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), embora organismos nicaraguenses elevem o número para 684, e desencadeou uma onda de repressão sobre os dissidentes.

O Presidente Ortega reconhece que foram "mais de 300" os mortos e insiste em que se tratou de uma tentativa de golpe de Estado.

A crise política e social acentuou-se após as polémicas eleições gerais de 07 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato presidencial - o quarto consecutivo e o segundo juntamente com a mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente --, depois de ter metido na prisão, ainda na pré-campanha, os seus principais adversários na corrida.

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