15 jun, 2023 - 10:03 • Teresa Almeida com Redação
Embriões sem coração sem cérebro, apenas com células que normalmente formariam a placenta.
Pela primeira vez, cientistas criaram embriões humanos sintéticos, com utilização apenas de células estaminais. Os responsáveis dizem que a investigação pode fornecer dados relevantes para o impacto das doenças genéticas.
A informação está a ser avançada pelo britânico The Guardian. De acordo com o jornal, o trabalho destes cientistas, da Universidade de Cambridge e do Instituto de Tecnologia da Califórnia, levanta sérias questões éticas e legais.
Numa primeira reação, Maria do Céu Patrão Neves, do Conselho de Ética para as Ciências da Vida, manifesta profunda preocupação com o facto de se criarem seres sem identidade.
"Temos de ver primeiro, do ponto de vista científico, quais são as efetivas potencialidades de desenvolvimento deste embrião sintético, sendo apresentado, primeiramente, pelas suas virtualidades terapêuticas, que não são colocadas em causa. Muito frequentemente, e a História ensina-nos isto, ao abrigo das potencialidades terapêuticas que avanços na área biotecnológica têm, depois continuam-se a dar passos em frente e esses poderão ser questionáveis do ponto de vista do respeito pela vida humana e pela dignidade humana, ficando, também por vezes, cativos de outros interesses académicos, intelectuais, económicos, financeiros...Por isso, todas estas questões têm de ser acauteladas", explica Maria do Ceu Patrão Neves.
A especialista diz que, tendo em conta o cenário, é preciso perceber as implicações de um avanço deste género.
"Este não é o objetivo. O que é preciso garantir é que essa não pode ser sequer uma possibilidade, porque, quando se torna uma possibilidade, há sempre alguém que dá um passo em frente", salienta.
Para afastar essa possibilidade é preciso "limitar muito escrupulosamente aquilo que pode ser a utilização destes designados embriôes sintéticos, dentro desta consciência muito viva que a 'rampa deslizante' é uma realidade e tem acontecido em todas as áreas de evolução biotecnológica".
"A nós compete-nos utilizar todos esses avanços no sentido do bem comum e nunca no sentido de colocar em causa aquilo que nós somos, a nossa identidade e aquilo que queremos ser", reitera.
Todas estas preocupações podem ser, no entanto, evitadas, diz Maria do Céu Patro Neves, mas "o progresso científico e tecnológico é, de facto, imparável". "Não vale a pena pensar na ética como uma função proibitiva", defende, dizendo, no entanto, que o progresso "pode ser orientável".
"É aqui que temos de investir. Orientar aquilo que é possível para garantir que se repercute num bem comum e não vem apenas servir interesses sectários", reforça.
[notícia atualizada às 10h57 de 15 de junho de 2023]