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​Estudo FLAD

Lusodescendentes nos EUA falam mais português, têm mais estudos e melhores salários

16 jun, 2023 - 10:28 • José Pedro Frazão

É o mais recente retrato da comunidade portuguesa nos Estados Unidos. Os "netos" dos emigrantes dos anos 50 a 70 estão a vencer na vida, com melhores salários e qualificações. Não nasceram em Portugal, mas estão a manter a língua viva, resistindo ao declínio em volume da presença lusa na América.

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O número de lusodescendentes nos Estados Unidos que falam português em casa aumentou 2,3% no período entre 2016 e 2020. Os dados constam de um encomendado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento sobre o perfil demográfico e socioeconómico da comunidade portuguesa nos Estados Unidos.

O universo de pessoas que se identificam como lusodescendentes e imigrantes portugueses nos Estados Unidos ascende a um milhão e 272 mil pessoas identificadas entre 2016 e 2020, o que representa uma quebra de 3,5% face ao quinquénio anterior.

Os investigadores dividiram a comunidade em quatro grupos de pessoas e mostram um declínio mais acentuado nos imigrantes portugueses, nascidos em Portugal, sem cidadania portuguesa e nos lusodescendentes que não falam português e não nasceram em Portugal.

No primeiro caso, o contingente diminuiu 34,2 % reflectindo uma redução do número de saídas de portugueses para emigração nos Estados Unidos. O grupo de imigrantes com cidadania americana também diminuiu ligeiramente nos últimos quinze anos.

Português: uma língua que resiste na América

O estudo constata que o único grupo que consegue resistir à tendência de diminuição é o dos lusodescendentes que falam português, apesar de não terem nascido em Portugal. A subida foi de 3.352 indivíduos no último quinquénio face ao período 2006-2010.

"Estas pessoas dizem ter ancestralidade portuguesa, usam o português em casa além do inglês e não nasceram em Portugal. Em certa medida, este crescimento foi uma surpresa para o grupo de investigadores que trabalharam estes dados. Como o estudo tem um carácter descritivo, não conseguimos avançar neste momento com fatores explicativos para esta situação. No entanto, este crescimento não será alheio aos esforços que a comunidade portuguesa nos Estados Unidos tem feito para o ensino do português nas escolas americanas e em localizações onde existam bastantes portugueses", justifica Alda Botelho Azevedo, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que coordenou este estudo que contou ainda com os investigadores

Jorge Malheiros, Katielle Silva, Lara Patrício Tavares, Nachatter Singh Garha e Pedro Moura Ferreira.

Os especialistas advertem que não é possível concluir que o número de falantes de português aumentou, uma vez que este ligeiro aumento é contrariado pela descida do número dos imigrantes portugueses e naturalizados. Globalmente, o número de falantes de português diminuiu em 19.805 indivíduos. O estudo aponta ainda que 22,49% da comunidade constituída por imigrantes e lusodescendentes fala português em casa, além do inglês.

Uma geração mais qualificada e com melhores salários

Alda Botelho Azevedo sugere que estudos demográficos posteriores poderão aclarar em que medida este crescimento pode resultar da vaga de emigração portuguesa para os Estados Unidos entre as décadas de 50 e de 70 do século XX.

"Até que ponto não são estes os netos dessa vaga de emigração que foi muito maior do que a que temos assistido agora?", questiona a investigadora do ICS.

Este grupo em ascensão de lusodescendentes, que falam português em casa, apresenta melhores qualificações e salários. Em 2016-2020, quatro em cada dez lusodescendentes que falam português tinham completado o ensino superior.

"Esta percentagem é superior em 10 pontos aquela que é observada nos outros residentes nos Estados Unidos. É um dado novo que este estudo traz, uma vez que os trabalhos anteriores têm caracterizado a ancestralidade não distinguindo pela língua. Os lusodescendentes falantes de português têm bastante mais sucesso no percurso escolar e não será difícil imaginar que isso se reflete no mercado de trabalho", explica a coordenadora do estudo encomendado pela FLAD.

Os salários dos lusodescendentes que falam português são 22% superiores ao resto da comunidade lusa nos Estados Unidos, de acordo com o documento agora publicado. Este grupo apresenta também maior percentagem de trabalhadores por conta de outrem em áreas de consultoria científica e técnica e na saúde e assistência social, mostrando ainda bons números comparativos no sector da educação.

Mais dispersos e integrados na América

A maior comunidade portuguesa continua situada na Califórnia, mas a segunda maior concentração de imigrantes, localizada no estado de Massachussets, está a perder representação. Com Nova Jérsia e Rhode Island, estes constituem os quatro Estados onde vivem 79% dos imigrantes naturalizados.

Outro dado novo deste estudo mostra que a comunidade portuguesa está agora mais espalhada pelos Estados Unidos, nomeadamente em Estados menos tradicionais para a imigração portuguesa, como a Flórida, Texas, Geórgia, Pensilvânia, Carolina do Sul e Carolina do Norte.

"Esta nova geração de lusodescendentes apresenta indícios de uma mudança no padrão de distribuição geográfica nos Estados Unidos. Os dados sugerem que eles adotam um padrão de mobilidade residencial e geográfica superior ao dos imigrantes, aproximando-se dos padrões dos outros residentes nos Estados Unidos", explica Alda Botelho Azevedo.

Os imigrantes e lusodescendentes representam, segundo o estudo, 0,4% da população norte-americana. E, apesar de estar a diminuir em volume, há sinais de vitalidade e de sucesso na integração na sociedade americana.

"Se olharmos aos rendimentos, os lusodescendentes demonstram uma capacidade de se integrarem na comunidade, vencendo. Há fortes mensagens neste estudo sobre quão bem a comunidade se aculturou e assimilou a cultura americana, estando muito bem integrada, com posições de destaque na sociedade americana", conclui a coordenadora deste estudo encomendado pela FLAD.

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